"16
Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos
dar a vida pelos irmãos. 17 Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe
fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? 18 Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em
verdade.
1 João 3:16-18
Por Jânsen
Leiros Jr.
Não há como negar. Volta
e meia ao longo de nossa vida, por diversos motivos, somos levados a fazer-nos
uma íntima e inquietante pergunta: pra quê tudo isso? Seja diante de dificuldades
nos relacionamentos, seja diante das perdas materiais ou afetivas, ou ainda por
conta de insucessos profissionais ou financeiros, a busca por um sentido
que seja transcendente a todas as oscilações circunstanciais da vida, segue
como a meta mais legítima e ao mesmo tempo mais desafiadora para a alma humana.
Nesse encapelado mar de
ideias, impulsos e reações, um propósito para a vida funciona como uma âncora
que pode firmar-nos em conceitos e princípios inegociáveis, que nos impeçam de
vagar à deriva, jogados por tempestades de emoções imprevisíveis. Um sentido
para a vida define a rota, permitindo que saibamos o caminho, não obstante
qualquer desventura.
Quando falamos de sentido
para a vida, não falamos de objetivos, alvos ou metas. Essas coisas, obviamente
importantes, não são o sentido da vida. Todos queremos ser felizes. Todos
queremos vivenciar relacionamentos afetivos bem-sucedidos, ou ainda ter uma
vida tranquila. Esses alvos ou objetivos, como queiram chamar, são obviamente importantes
e louváveis, mas não são o propósito.
Analisando tais metas de
vida, quem pode dizer que estejam errados? Certamente qualquer um apreciará
quem elencar esses alvos como objetivos de vida, e como sendo o lugar
onde pretende chegar em sua caminhada. E isso é extremamente bem-vindo. Aliás,
o fato de possuirmos em quase a totalidade na humanidade os mesmos objetivos de
vida, por si só já os legitima como aceitáveis, probos e preferíveis.
Acontece que ter alvos
definidos diante dos olhos, não garante ao arqueiro que os irá atingir. É
preciso ter um sentido, um propósito. É preciso definir a estratégia, o modo de
ir até o seu destino. Ao arqueiro será necessário definir a trajetória da
flecha, assim como ao navegante ajustar a rota até o ponto de chegada. O
sentido da vida é o que determina como eu vou até onde eu quero chegar.
"
12
tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério,
para edificação do corpo de Cristo; 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo;
14 para que não mais sejamos meninos,
inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência
dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; 15 antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo,
Efésios 4:12-15
Como cristãos que somos,
nossa meta primordial na vida é nos tornarmos iguais a Cristo; nosso alvo por
excelência. Mas é preciso ressaltar que para atingirmos esse objetivo, precisaremos
de propósitos firmes e transformações convincentes, que se farão o caminho que
nos levará ao destino tão pretendido; a imagem de Cristo em nós.
Ora, se Deus é amor,
logo o amor é sua forma de existir. Amar é a vida de Deus. E se a doação é a
forma invariável como realiza seu amor para com a humanidade[1],
a doação é a maneira com que a essência amorosa de Deus melhor se revela para nós.
Deus é um doador por excelência e a doação é o seu amor em ação. Deus
doa desde o princípio. Dando de si criou os céus, a terra e tudo o que neles há.
Doando de si mesmo formou tudo o que trouxe à existência.
Ao doar-nos tudo e
tantas coisas, o próprio Deus nos doou o próprio sentido da vida, elaborando um
propósito que se sustenta sobre tudo o que Ele mesmo nos deu. Foi assim que
ganhamos vida plena e vida em abundância[2].
A vida plena é aquela capaz de desenvolver todas as suas possibilidades em
todos as abrangências em que tal vida atua. A vida plena é uma vida que se
realiza. E essa realização é tanta, que sobeja, sobra, transborda. É uma vida
abundante porque não se cabe. E por não se caber se doa. Por isso doamos vida. Porque
a temos além do que podemos viver.
O Deus doador doou-nos também
o seu Espírito, e isso é extremamente revelador de sua vontade, e esta em relação
a um propósito de vida. Sim, porque Aquele que vivia nos céus e visitava
a humanidade conforme relatos do Antigo Testamento, e que durante o ministério
de Jesus esteve habitando entre nós, segundo os evangelhos, por seu Espírito
fez de nós sua morada, vivendo em nós. Ora, isso não pode significar outra
coisa senão que Deus vive através de nós. Não dissemos nós que ser pai é ter o
coração batendo fora do corpo, em outros corpos, nos corpos de nossos filhos? A
exemplo de Deus, doar de nós mesmos ao próximo é viver nele nossa vida
transbordante.
Entre outras tantas
coisas doadas por Deus à humanidade, está a sua Palavra, escrita e encarnada,
ensinando e instruindo, admoestando e provocando cada indivíduo a uma vida de
santidade e devoção por gratidão; Ele nos amou primeiro[3].
E por isso deu-nos sua Palavra encarnada, resgatadora e salvadora de todo
aquele que nela crê[4].
Não a compramos. Não demos nada em troca. Foi-nos tudo doado por amor; vida,
Palavra, salvação. Não vem de vós, diz o texto de Efésios, é dom de
Deus. Não vem dos homens para que ninguém se glorie[5].
Em Deus podemos viver
vida santa e reta, em total dedicação ao seu reino e devoção à sua glória. Nesse
propósito de vida encontramos satisfação e contentamento, pois n’Ele podemos
todas as coisas, inclusive passarmos pelas piores condições de existência[6].
Quando o sentido da vida descansa em tudo aquilo que Deus doou, vivemos
contentes porque não olhamos circunstâncias nem situações fugazes. Mesmo que vantajosas;
não me guio por vista dizia a canção. Grato a Deus pelas promessas que nos
orientam a uma relação íntima com Ele, sabemos que podemos dar sem medo; seu cuidado
nos sustenta e seu amor não falha. Fiel é Deus, em quem não há sombra de variação[7].
Nosso trabalho não é vão no Senhor[8].
Portanto, a doação é a
forma mais contundente e inegável de nos assemelharmos a Deus. Ao doarmos
replicamos a atitude divina de constante doação em amor. E se o propósito da
vida é chegar à sua imagem e semelhança, a doação é o grande sentido de nossas
vidas. Deus é doador, e importa que os verdadeiros adoradores vivam em espírito
de doação.
Veja também o artigo A vida pode ter sentido;