Life Together; Dietrich
Bonhoeffer – pág. 87 (edição inglesa, Harper & Row, 1954); tradução livre
A
unidade na igreja de Cristo, um ideal exaltado nas Escrituras, enfrenta
desafios significativos na realidade contemporânea. As diversidades humanas —
culturais, sociais, teológicas e pessoais — criam barreiras que muitas
dificultam a coesão. As necessidades individuais, pretensões variadas e sonhos
distintos têm gerado tensões dentro da comunidade cristã, testando sua
capacidade de permanecer unida. No entanto, é precisamente no meio dessa
diversidade que a verdadeira essência da unidade cristã pode brilhar, quando a
igreja se compromete a superar essas diferenças em favor de um propósito maior:
refletir o amor e a graça de Deus no mundo.
Desafios e Oportunidades na Pós-Modernidade
Que
a unidade é um tema fundamental para a saúde e eficácia do corpo de Cristo, ninguém
discorda. A dificuldade está em entender o quanto esta unidade é crucial para que
a igreja se mantenha relevante e pertinente no cenário social contemporâneo. E é
determinante que a igreja busque e mantenha essa unidade em todos os aspectos
da vida da comunidade. A tarefa, no entanto, não é fácil. Especialmente em uma
época de pós-modernidade[1],
quando as pessoas são expostas a uma variedade de influências e pressões que
podem dividir e fragmentar a comunidade.
A
igreja é composta por indivíduos com diferentes experiências, culturas e
perspectivas, cada um com suas próprias necessidades e desafios. Isso pode
levar a uma diversidade de opiniões e práticas, que, se não gerenciadas
corretamente, podem causar divisões e conflitos. Além disso, a igreja também é
influenciada pelas pressões sociais e culturais do mundo exterior, que podem
tentar desviar a atenção da comunidade de seu propósito e missão.
O
texto bíblico é categórico ao afirmar que a unidade é essencial para a igreja.
Em João 17:20-23[2],
Jesus orou para que os seus discípulos fossem unidos, e em 1 Coríntios 12:12-26[3],
Paulo destacou a importância da unidade no corpo de Cristo. Logo, a unidade não
é apenas um ideal teórico, mas uma necessidade prática que deve ser buscada e
mantida em todos os aspectos e circunstâncias.
Nesse
contexto, é fundamental que a igreja busque compreender e abraçar a
diversidade, ao mesmo tempo em que busca manter a unidade. Isso pode ser feito
através de uma compreensão profunda de sua natureza como o corpo de Cristo,
onde cada membro tem um papel importante e é interconectado com os demais. A
igreja também deve buscar uma compreensão profunda da natureza humana e de suas
necessidades, para se apresentar acolhedora e amorosa com todos, sem deixar a
convicção e a segurança de seus princípios.
A Pós-Modernidade e a Unidade na Igreja
A
pós-modernidade afeta a percepção de unidade na igreja de várias maneiras. Em
primeiro lugar, a pós-modernidade caracteriza-se por uma crítica à ideia de
verdade universal e objetiva, o que pode levar a uma relativização dos valores
e crenças. Isso pode causar desacordo e fragmentação dentro da igreja, pois
diferentes membros podem ter diferentes perspectivas e compreensões sobre a
verdade e a realidade[4].
Além
disso, a pós-modernidade também traz uma crescente influência da cultura
secular e do misticismo, o que pode atrair indivíduos que buscam experiências
espirituais e transcendentes, mas que podem não ter uma compreensão clara da
natureza da igreja e do Evangelho. Isso pode levar a uma mistura de doutrinas e
práticas religiosas, tornando mais difícil a manutenção da unidade na igreja.
No
entanto, a pós-modernidade também apresenta oportunidades para a igreja se
adaptar e se renovar. A busca por significado e propósito na vida pode levar
indivíduos a buscar a verdade e a unidade em Cristo. A igreja pode se encarnar
na cultura pós-moderna, utilizando a linguagem e as estruturas da sociedade
contemporânea para anunciar o Evangelho e manter a unidade.
Mantendo a Unidade na Igreja
Para
superar os desafios da pós-modernidade e manter a unidade, a igreja precisa se
qualificar como povo de pessoas cheias do Espírito Santo, discernindo a vontade
de Deus e sendo solidárias com os pecadores. A igreja também precisa priorizar
a formação de relacionamentos fortes, a vida espiritual e a adoração, além de
se posicionar em amor, diante das desafiadoras mudanças culturais e sociais.
Ou
seja, a pós-modernidade apresenta desafios para a unidade na igreja, mas também
oportunidades para se adaptar e se renovar, mantendo sua relevância social. Afinal,
a igreja precisa se manter coesa para anunciar o Evangelho de forma eficaz.
Nos
próximos textos, exploraremos algumas dimensões cruciais da unidade na igreja,
apoiadas por referências bíblicas e comentários teológicos relevantes. Essas
dimensões incluem a unidade em Cristo, a unidade em espírito, a unidade em
amor, a unidade em missão, a unidade em liderança e a unidade em comunicação.
Ao abordar essas dimensões, esperamos fornecer uma visão mais completa e
profunda da unidade na igreja, e inspirar seus membros a buscarem essa unidade
em todos os aspectos de sua expressão.
[1] A
pós-modernidade é uma corrente cultural, filosófica e artística que surgiu na
segunda metade do século XX, caracterizada por uma crítica às metanarrativas e
às verdades universais defendidas pela modernidade. Aqui estão alguns
pontos-chave para entender a pós-modernidade:
1.
Relativismo e Pluralismo: A
pós-modernidade rejeita a ideia de uma verdade absoluta e objetiva, promovendo
a noção de que a verdade é relativa e depende do contexto cultural e
individual.
2.
Desconstrução das Metanarrativas: Grandes
narrativas ou ideologias que pretendem explicar a totalidade da experiência
humana são desconstruídas e vistas com ceticismo.
3.
Fragmentação e Diversidade: Ao contrário
da uniformidade e coesão buscadas na modernidade, a pós-modernidade celebra a
fragmentação, a multiplicidade de perspectivas e a diversidade de identidades.
4.
Intertextualidade: A ideia de que os
textos e os significados são formados por referências a outros textos e
contextos, e que os significados são instáveis e abertos a múltiplas
interpretações.
5.
Hibridização Cultural: Mistura de
estilos, gêneros e práticas culturais diferentes, rejeitando as distinções
rígidas entre alta cultura e cultura popular.
6.
Desconfiança das Instituições: Ceticismo
em relação às instituições tradicionais como a igreja, o estado e as
instituições educacionais, que são vistas como fontes de opressão e controle.
7.
Simulacros e Hiper-realidade: No campo da
comunicação e da mídia, a pós-modernidade enfatiza a prevalência dos simulacros
(cópias sem um original real) e a hiper-realidade, onde a distinção entre
realidade e representação se torna obscura.
Essas características mostram como a pós-modernidade
desafia as certezas e estruturas estabelecidas, promovendo uma visão do mundo
mais fluida e menos centrada em verdades universais.
O conceito de "mundo líquido" de Zygmunt
Bauman está intimamente relacionado às características da pós-modernidade.
Bauman usa o termo "modernidade líquida" para descrever a condição
social, cultural e econômica da sociedade contemporânea, onde as estruturas e
instituições são fluídas, mutáveis e instáveis.
[2]
João 17:20-23 (ARA):
“20
Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim,
por intermédio da sua palavra; 21
a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também
sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. 22 Eu lhes tenho transmitido
a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; 23 eu neles, e tu em mim, a
fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me
enviaste e os amaste, como também amaste a mim.
Esses versículos destacam a oração de Jesus pela
unidade entre Seus seguidores, desejando que eles sejam um assim como Ele é um
com o Pai. Essa unidade é essencial para que o mundo creia que Jesus foi
enviado pelo Pai e que os crentes são amados por Deus da mesma maneira que Ele
ama Jesus.
[3]
1 Coríntios 12:12-26 (ARA):
12 Porque,
assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos,
constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.13 Pois, em um só Espírito, todos nós
fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.14 Porque também o corpo não é um só
membro, mas muitos.15 Se
disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do
corpo.16 Se
o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o
ser.17 Se
todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o
olfato?18 Mas
Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve.19 Se todos,
porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?20 O certo é que há muitos membros, mas
um só corpo.21 Não
podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés:
Não preciso de vós.22 Pelo
contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários;23 e os que
nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os
que em nós não são decorosos revestimos de especial honra.24 Mas os nossos membros nobres não têm
necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra
àquilo que menos tinha,25 para
que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual
cuidado, em favor uns dos outros.26 De
maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é
honrado, com ele todos se regozijam.
Paulo destaca a importância da unidade e da
diversidade dentro da comunidade cristã. Ele compara a comunidade com o corpo
humano, onde cada membro tem uma função específica, mas todos são necessários
para a saúde e a função do corpo. Paulo afirma que, embora os membros sejam
diferentes, todos são unidos em Jesus Cristo e que a unidade é essencial para a
comunidade cristã. Ele também destaca que a dor ou a honra de um membro afeta
todos os demais, e que a unidade é alcançada pelo Espírito Santo.
[4]
Um especialista que discute a influência da pós-modernidade na igreja é David
F. Wells. Em sua obra "No Place for Truth: Or Whatever Happened to
Evangelical Theology?" (1993), Wells argumenta que a pós-modernidade, com
sua ênfase no relativismo e na rejeição da verdade objetiva, tem um impacto
significativo na unidade da igreja.
"A pós-modernidade, ao
minar a própria noção de verdade objetiva e ao promover o relativismo, levou a
uma fragmentação na igreja onde a coerência doutrinária é sacrificada no altar
da preferência individual e das tendências culturais." — David F. Wells,
"No Place for Truth: Or Whatever Happened to Evangelical Theology?"
(p. 78).
Jânsen! Que estudo. Tão vibrante quanto inquietante é este tema aqui abordado, o qual, traz à luz a preocupação com a Unidade da Igreja Cristã, assim como suas implicações (e complicações) no que tange a pós-modernidade com seus conceitos e valores relativistas e tudo quanto ela prega, incentiva, pressiona e desconstrói, tanto que certo líder de certa igreja de certo município de certo estado da região sudeste deste nosso país, em sua omilia, tentando passar mensagem de uma "Igreja Inclusiva", pregou que a Bíblia deveria ser revisada ou adaptada às novas tendências que são diametralmente opostas aos ensinos aos milenares preceitos nela contidos, que a torna o único guia de fé e prática.
ResponderExcluirMantenha-nos Deus unidos em espírito, pelo Seu Espírito Santo. A.: Baixinho
Wilson, amigo. Você sempre presente e oportuno em seus comentários. Um incentivo e tanto para o empenho crescente. Obrigado por participar aqui.
ExcluirSim, há desafios imensos para a unidade da igreja. E seguiremos lutando por isso. O Senhor nos fortalecerá e renovará continuamente.