“19 Por
isso, irmãos, nós temos completa liberdade para entrar no Lugar Santíssimo. E
nós podemos fazer isto com toda a confiança, por causa do sangue de Cristo.20
Nós podemos entrar através de um novo caminho — um caminho de vida — o qual
Jesus nos abriu. E este caminho nos leva através da cortina, isto é, através do
seu próprio corpo.21 Nós temos um grande sacerdote
que governa a família de Deus.22 Portanto,
vamos nos aproximar de Deus com coração sincero e com firmeza de fé. Nós
podemos fazer isso porque nossos corações foram purificados, libertando-nos do
peso de nossa consciência, e também porque o nosso corpo foi lavado com água
pura.23
Vamos seguir firmes e sem vacilar na esperança da nossa fé, pois aquele que fez
a promessa é fiel.24 Vamos também considerar uns aos
outros, a fim de nos encorajarmos a mostrar amor e a fazer o bem.25
Não deixemos de nos reunir, como algumas pessoas estão fazendo. Ao contrário,
vamos nos reunir e fortalecer uns aos outros, ainda mais agora que vocês estão
vendo que o Dia se aproxima.”
Hebreus 10:19-25 – VFL
Uma das características mais marcantes
do cristianismo, é a existência de uma relação direta e livre com um Deus
pessoal (digo pessoal por ser Ele pessoa
assim como pessoa me fez, e não por
ser um deus particular e exclusivo). Uma relação considerada impossível pelo
homem natural, ora por entender que um ser superior necessariamente não seria
acessado por uma pessoa comum, ora por não crerem em sua existência, e portanto
considerar-nos a todos nós que o professamos, loucos delirantes, com grande
dose de esquizofrenia.
O autor do livro de Hebreus, no
entanto, sendo profundo conhecedor do procedimento religioso judaico, traça um
perfeito paralelo entre o ritual de expiação dos pecados estabelecido pela Lei Mosaica,
e o ato de redenção realizado por Jesus, como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Um ritual que
apregoava Deus como inacessível ao homem comum, dada sua santidade e perfeição.
O ritual de purificação dos pecados
realizado uma só vez por ano, era presidido pelo principal sacerdote, que
tinha, somente ele, autorização para entrar na câmara mais interna do templo,
conhecida como Santo dos Santos, onde acreditava-se morava o próprio Deus. Ali
os sacrifícios eram oferecidos pelos pecados. Um Deus por assim dizer distante
do cotidiano do povo, pensado como um Deus de presença esporádica e alheia,
porque alí ou além. Jamais aqui e em nós.
Entre os diversos motivos que
contrariaram os interesses políticos e revolucionários dos judeus e seus
líderes religiosos da época, o acesso livre e direto a Deus propiciado e
incentivado por Jesus, foi o gerador de grande indignação entre os hebreus. Como assim se pode falar direto com Deus?
O mesmo Deus de quem até bem poucos dias não se podia sequer balbuciar o nome
ou lhe mencionar em vão, agora é chamado de papai por qualquer um, que com
ousadia crê que os pecados que lhe afastavam de Deus estão perdoados. Um verdadeiro absurdo! - deviam
resmungar os legalistas de plantão.
A verdade é que o Deus de quem a
própria lei me afastava, agora se entrega em companhia a nós, seus filhos. E
não só isso, mas também habita em mim pelo seu Espírito não só fazendo-se
presente, mas se envolvendo e se fazendo envolvido em toda a minha existência
cotidiana. Não é mais preciso entrar em sua presença, Ele está em mim. Se
antes, como apregoava o salmista eu não conseguia escapar de sua onipresença e
onisciência, agora seu Espírito opera em mim uma profunda transformação, produzindo
a imagem de seu Filho. Passamos nós a ser a morada de Deus. O véu do lugar Santíssimo
foi rasgado. nada mais nos separa de Deus.
Ora, sendo assim estabelecido tão livre
e ilimitado acesso, o que esperamos para exercitar constantemente a intimidade
oferecida por Deus através de seu Espírito? Portanto,
vamos nos aproximar de Deus com coração sincero e com firmeza de fé, diz o
versículo 22. Deus nos chama ao relacionamento com ele. O Senhor nos chama à
intimidade. Orai sem cessar é a
orientação de Paulo. Ele não é mais uma coluna de fogo, uma sarça ardente, um
amuleto que trago reverente no bolso, a quem recorro em caso de precisão. A
quem posso chamar Paizinho interage
comigo instante a instante, vivendo em mim e eu n'Ele.
“Assim nós, que
somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros
uns dos outros”
Romanos
12:5 – RCF
“25 Para que não haja divisão no
corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros.
26 De maneira que, se um membro
padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os
membros se regozijam com ele."
1
Coríntios 12:25-26 – RCF
Um outro aspecto de profunda
significância é a comunhão do corpo de Cristo; a igreja e seus membros. O texto
de Hebreus mesmo faz esse alerta. Devemos ter liberdade uns para com os outros,
liberdade intimista, que nos permita apoiar, sustentar em amor e cuidado,
admoestando-nos mutuamente ao exercício da comunhão e presença mútua. final
somos membros uns dos outros.
É importante ressaltar isso, porque
muitos se permitem perder esse contato, cuidando que sozinho sabe se manter
firme e confiante no caminho que nos está proposto. Mas isso não é certo. Desde
muitos tempo já se dizia que não é bom
que o homem esteja só. Essa máxima não se aplica apenas ao contexto da
relação amorosa homem-mulher. Ela é mais ampla à medida que revela uma
necessidade gregária da alma humana. Deus não nos criou para sermos sozinhos,
nem para andarmos sozinhos, nem para vivermos e nos virarmos sozinhos.
Sendo membros uns dos outros, nos
completamos mutuamente e nos servimos mutuamente, funcionalmente existindo como
um só organismo. Um exército de desconhecidos íntimos, que se permitem carregar
as cargas uns dos outros em amor, na confiança de que Deus é tudo em todos.
Portanto exercitemos plena e
urgentemente nossa relação íntima com Jesus e sua igreja . Uma relação
transparente, não que eu tenha como dele esconder alguma coisa, mas
considerando que a transparência é uma atitude em que eu me dou a conhecer,
ainda que o outro já nos conheça ou tenha grandes suspeitas sobre mim. Se a um
coração contrito e quebrantado o Senhor não resiste, de um igualmente solidário
sua igreja não se esconderá.
Um forte abraço.