domingo, 31 de janeiro de 2016

Bom ou mau? Velhas indagações modernas inquietações


Por Jânsen Leiros Jr.


" 3 Porque proclamarei o nome do Senhor; engrandecei o nosso Deus. 4 Ele é a nossa Rocha, suas obras são todas perfeitas, e seus caminhos todos, justos. Deus é fiel, e jamais comete erros. Deus é bom, sábio e justo! "
Deuteronômio 32:3-4 - KJA

" 18 Certo líder judeu indagou-lhe: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” 19 Questionou-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus!."
Lucas 18: 18-19 - KJA

Mais uma vez recebi um questionamento bastante interessante, em que nosso interlocutor questionava, entre muitas coisas, por que Deus estava deixando sua mãe partir... Morrer. Era perceptível a dor que lhe dilacerava o peito. Não era pra menos. E se já não bastasse a dor daquela perda, outra questão lhe perturbava: Estaria ele se tornando um herege, porque volta e meia passava por sua cabeça o pensamento que questionava: Se Deus é bom, como pode permitir que nos aconteçam coisas más e profundamente doloridas. Será que ele tem prazer em nosso sofrimento? Chegar a pensar nisso lhe causava dor sobre dor.

Ora, era então preciso lhe demonstrar que a elucubração é um exercício mais do que natural e recorrente no ser humano. Pensamos praticamente todo o tempo, e em muitos casos, pensamos no que pensamos, avaliando a pertinência de pensamentos, argumentos e conclusões. Não temos volta e meia a ideia de que nossas conclusões só podem ser maluquices? É porque, pensando sozinhos, quase sempre nos damos o direito de vagar por espaços e dúvidas que não expomos diante de terceiros. Também é por isso que ao pensarmos, ou nos calamos, ou nos afastamos, entendendo que podemos nos trair balbuciando as ideias. Não diz Caetano que de perto ninguém é normal? Creio que ele tenha certa razão.

Passava então a ser minha responsabilidade dizer que Deus é bom, apesar da morte de sua mãe. E que ainda se mantinha bom, apesar de seus pensamentos que entendia serem hereges. Não há punições para questionamentos, só para intenções. Então Deus precisaria ser apresentado bom, e suas inquietações adequadas, ou minimamente aceitáveis. Isso sem usar teologuês insensível, ou gerar polêmica confrontando o pensamento e a exposição de quem pedia socorro. Socorro, por mais distante que esteja da verdade, se é que esteja, deve ser acolhido e não confrontado. Então vamos à resposta oferecida ao leitor.

*   *   *

Questionar sobre a vida é um direito legítimo do ser humano. O pensamento é um exercício que nos faz ser diferentes de zebras, macacos e samambaias. De modo que, pensar e questionar são atos legítimos em qualquer pessoa, qualquer que seja o mote de tal questionamento, qualquer que seja o caminho que fez, faz, ou fará determinado pensamento.

Por isso quando a bondade de Deus é questionada, não há qualquer sacrilégio nisso, pois que exercício genuíno do potencial humano de pensar. É preciso ter em mente, contudo, que sendo a bondade um atributo, aquilo que se refere à natureza inerente e inclinação máxima, ou ela é ou ela não é, não podendo haver em parte. Sim, porque se Deus é bom, ou Ele é TODO bem, ou não é bem algum, ainda que pudesse ser às vezes ou na maioria das vezes bom. Porque se há espaço para algum mal, então ele poderá ser todo mau. Atributos não se estabelecem por proporções. Mas afinal, Deus é bom ou mau?

Gosto da comparação que assisti outro dia, de dois momentos extremos da vida humana; nascimento e morte. É muito normal ao longo da vida sermos comunicados com toda a alegria, do nascimento de filhos de amigos, filhos de parentes, ou mesmo dos nossos filhos. Apreensivos pelas circunstâncias e pelos riscos envolvidos, ao sermos informados de que tudo correu bem, dizemos graças a Deus. E por vezes vi pais e parentes dizerem, com seus rebentos no colo, como Deus é bom!

Mas também ao longo da vida vivemos circunstâncias de dor e de grande tristeza, onde nos questionamos por que Deus deixou isso ou aquilo acontecer? Por que permitiu a morte desse ou daquele ente querido? Por que Deus quis que morresse o meu filho? Falo como quem sofreu tal perda e que ainda sente a dor da ausência. Dor que deverá doer para sempre.

Deus é luz, diria o apóstolo João em uma de suas cartas, e nele não á treva alguma. Isso dizia demonstrando que bem e mal são autoexcludentes, e não podem, por esse princípio, habitarem simultaneamente o mesmo espaço. Portanto Deus é bom ou é mau? Ou será que lhe atribuo o ser bom ou ser mau conforme as circunstâncias que vivencio? Ou será que Ele é bom ou é mau, dependendo do que me agrada ou me aborrece? Afinal, Deus é bom ou é mau? Ou nós é que vivemos como crianças birrentas, colando n'Ele adesivos infantis que variam conforme nosso humor, consoante as próprias conveniências?

Nunca houve qualquer promessa de "blindagem" da vida, por Deus ser bom ou ser mau. Nada a isso jamais se condicionou. Sequer sua fidelidade, que se mantém firme apesar de toda e qualquer circunstâncias. Muito pelo contrário, a Bíblia afirma que a chuva cai sobre justos e injustos, declarando em alto e bom som que Deus não faz acepção de pessoas. À isso há inexorável fidelidade. De modo que todos passamos tudo pelo que um ser humano normal pode passar ao longo de uma vida comum; vitórias e derrotas, ganhos e perdas, nascimentos e mortes. No mundo tereis aflições, disse o próprio Jesus. Viver é inquietante e aflitivo. Mas tenham bom ânimo, pois eu venci o mundo. Esse é outro conforto. E a este se segue que estará conosco até o fim dos tempos.

Essa é uma promessa, e uma promessa redentora. Haverá dor, surgirão dificuldades, os desertos aparecerão ao longo da caminhada; Ele estará sempre ao nosso lado. Sabendo isso, diria o apóstolo Paulo, que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. É a providência cuidando de seus propósitos e de nosso bem. Deus é mesmo bom, ainda que em meio ao caos, que é mal.

Dói? Eu sei que dói. E dói em mim, como dói em tantos outros. Dói até em outras situações que vão além da dor, e que nos deixam confusos e perplexos. Mas tenha bom ânimo, pois eu venci o mundo, diz Jesus aos nossos corações.

Essa sim é a vida real. Vida que se alterna em fatos agradáveis e desagradáveis. Em circunstâncias fáceis e difíceis de serem superadas. Momentos agradáveis ou ruins de serem vividos. Mas Jesus não deixou de saber de nada disso. Viveu tudo, sendo homem experimentado em dores, para em tudo e por tudo poder nos conduzir à salvação; por meio de sua própria dor. Ora, se o próprio Deus fez questão de pela dor nos conceder a graça da redenção, como não estaria conosco e em nós, nos momentos em que a caminhada fica difícil, e o fôlego para prosseguir parece quase nos faltar?

Tende bom ânimo ele diz e eu repito. Em Cristo nossa momentânea tribulação, se tornará peso de alegria, pois todas as lágrimas serão enxugadas, e todas as explicações nos serão dadas; ou não. Porque também não farão qualquer diferença. O que nos importa ouvir no final? A sua fé te salvou. 

Que o Senhor conforte e abençoe em tudo. Tanto seu coração quanto sua mente. Para que fluindo o pensamento que se renova para transformação das sensações e sentimentos, fortaleça sua fé, aumentando a confiança e convicção em Sua bondade e graça. E que isso lhe conceda um coração grato e devotado, ao que Deus jamais resiste.

domingo, 24 de janeiro de 2016

E pra falar de Fé, é preciso crer?


Por Jânsen Leiros Jr.


" Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem."
Hebreus 11:1 - JFA

" Ora, a fé é a certeza de que haveremos de receber o que esperamos, e a prova daquilo que não podemos ver."
Hebreus 11:1 - KJA

"στιν δ πίστις λπιζομένων πόστασις, πραγμάτων λεγχος ο βλεπομένων."
Hebreus 11:1 - Grego

" Now faith is [the] substantiating of things hoped for, [the] conviction of things not seen."
Hebreus 11:1 - Darby Bible Translation


Há algum tempo, em virtude dos textos que divulgo aqui, sou questionado por diversas pessoas que, ora querem uma explicação mais detalhada sobre algum texto, ora querem entender melhor alguma posição doutrinária que tenha declarado. Não poucas vezes, porém, há quem queira questionar fundamentos da cristandade, ou mesmo os fundamentos da divindade.

Um dos textos que mais gera esse tipo de retorno é o intitulado Impossível explicar Deus[1]. Uns respondem que "é claro que se pode explicar Deus", talvez me considerando um herege. Outros, porém, na outra extremidade, afirmam que crer em Deus seja um delírio, utilizando-se do título do livro Deus um delírio, de Richard Dawkins.

De qualquer forma, não são poucas as vezes que preciso reafirmar ou ampliar a sustentação de minhas posições, já que aquilo a que nos pretendemos com esse blog tem sido alcançado. Provocar o pensamento e a fé, ou não, dos que se ocupam em pensar em Deus. Teólogos de ocasião ou por dedicação, que fazem do tema uma deliciosa e prazerosa fonte de devoção, seja por aceitação ou negação.

Assim, e motivado por esses adoráveis interlocutores, passo a descrever alguns desses debates, obviamente ocultando o nome dos participantes, até mesmo porque adaptamos algumas partes e editamos outras, com vistas a melhor compreensão de quem dele participará a partir desse novo texto. Espero que lhes seja relevante.
. . .


Por que vocês consideram a fé uma prova de coisas que não podem ser vistas? Como a fé pode ser prova de alguma existência? Se alguém tiver absoluta na existência de duendes eles passam a existir?


Ótima observação. Mas há mesmo um equívoco nisso. A fé não prova nada. Não no sentido jurídico, que é o sentido como entendemos prova em nossa cultura. A fé me faz agir mas não baseado em prova, e sim em convicção. Quando o texto traduz prova, dá a ideia de que o objeto da fé não pode sequer ser questionado, que no senso comum, sugere algo semelhante a fato irrefutável ou inquestionável. Creio que a palavra seria melhor traduzida como convicção, o que melhor demonstraria o poder impulsionador da fé. Diante daquilo para o que não há qualquer prova ou evidência irrefutável, o que nos move é a convicção, o que nos impulsiona é tão somente a fé.

O valor da fé está exatamente em conduzir ao improvável. Caso a fé se baseasse em fatos e evidências, como ressalto no texto, não seria fé, mas apenas constatação razoável, uma conclusão inevitável, que não deixaria qualquer margem de dúvida. Não há como crer ou não crer no que é irrefutável; apenas aceita-se ou não. Mas não cabe fé ou não fé quando o fato está diante dos próprios olhos. O apóstolo Paulo faz bem essa advertência . Por isso insisto que a tentativa de explicar Deus não pode ser, senão, uma elucubração sobre a experiência pessoal com ele, que apesar de poder ser comunicada, é uma realidade individual e intransferível.

Obviamente ter fé de que duendes existem não os farão existir no mundo e nem para todos. Mas os farão existir para aqueles que neles acreditam. Você encontrará quem relate encontros com duendes, como há quem creia em ETs, e garante com todas as suas forças e argumentações, tê-los vistos, ter conversado com eles, ou mesmo ter sido raptado e até operado por eles. Isso nos leva a uma outra e pertinente questão, em que o ponto de distinção não está na fé como exercício da convicção, mas no que é que se tem fé.
O texto que você leu, entre outros aspectos, tem o intuito de dizer aos demais crentes em Deus, nosso Criador, e em seu Filho Jesus, nosso Salvador, que aquilo em que nós cremos e aceitamos, que aquilo que nos impulsiona e nos faz viver, pode, no máximo, ser comunicado, mas jamais imposto a ninguém. Por quê? Porque a fé é uma experiência única e exclusivamente individual. Ela é intransferível, ainda que comunicável pelo testemunho e pela argumentação. A afirmação é direito de quem crê, mas jamais a imposição ou o sugestionamento. Do contrário, onde estaria a legitimidade da fé? Voluntariedade, uma outra característica insofismável da fé. Não há nada pior do que alguém infernizando o nosso juízo, querendo nos impor uma crença ou mesmo uma não crença, pela qual não temos impulso íntimo e genuíno.

Portanto, fé não é prova, mas uma convicção que me impulsiona a vida.


Discordo totalmente da ideia de que ter fé faça com que algo exista para uma determinada pessoa. A existência não está condicionada a crença e sim a realidade. Se uma pessoa tiver muita fé de que pode voar e se jogar do prédio, ela não vai cair pra mim e voar para ela...

Achar que existe valor em acreditar sem boas evidências (veja que não estou usando o termo prova mas sim evidências), é tão absurdo que você só abre exceção para a religião, pois se abrisse para o resto das questões cotidianas o mais provável é que acabasse morto.

Como tenho por meta acreditar na maior quantidade de coisas possíveis que sejam verdadeiras e na menor possível que sejam falsas, me baseio no método que se mostrou mais eficiente para esta função até hoje que é só acreditar naquilo para o que existam boas evidências, e portanto não considero bom para ninguém basear suas crenças na , ela estará somente aumentando as chances de estar errada.

Por isso apesar de saber que é com boas intenções, e que você não vê a fé como algo negativo como eu vou te pedir que não peça para que eu tenha fé.

Foi ótimo você usar a palavra evidência, porque outra vez voltamos para dentro do texto que eu escrevi, base de todo nosso debate até agora. Exatamente pelo que disse antes, não há qualquer prova da existência de Deus, como também não há de sua inexistência, senão as evidências que considero relevantes em minha relação íntima com ele. E o campo de atuação dessa eventual relação é a psiqué, onde ninguém mais além de mim, pode entrar e encontrar as evidências que encontro. Deus se revela separadamente a cada ser humano, ainda que determinadas evidências sejam públicas e disponíveis a todos. Eu explico.

O salmista afirma que os céus declaram a glória de Deus, e que eles anunciam as obras das suas mãos[2]. Ora, se declaram e anunciam o fazem a todos, pois todos têm acesso aos céus e às coisas criadas; as evidências. Porém elas não são provas para mim, mas hipóteses ou indícios de que há Deus. O que me levará a essa convicção impulsionadora à relação com ele é exatamente a fé. Portanto a convicção induz e conduz à crença.

Mas usando o próprio exemplo que você mesmo deu, veja como a fé é capaz de movimentar o indivíduo na direção daquilo em que acredita. Convicto de que há dinheiro na conta, alguém pode sair gastando esse dinheiro acreditado, porém não creditado. Ainda que não existente, ele agirá nessa fé. Convicto de que poderá voar, alguém pode atirar-se de um penhasco e morrer. E foi em sua fé que terá morrido.

Então retornamos ao ponto em que, a diferença, se estabelece pelo objeto em que é que se tem fé, e não na propriamente dita. Sim, porque confiando que suas ideias poderiam ser revolucionárias, Steve Jobs e Bill Gates se lançaram no mercado de informática, que ainda engatinhava, e se tornaram milionários com suas criações. Da mesma forma, crendo que seria capaz de desenvolver um equipamento que nos viabilizasse voar, Santos Dumont criou o avião. E tantas outras pessoas trouxeram à existência o que antes não existia, baseados em suas crenças e em suas convicções.

Ao contrário disso, muitos outros homens e mulheres, diante das mesmas evidências não creram ser possíveis os mesmos intentos ou inventos. As condições e possibilidades eram públicas, ainda que não populares. As tecnologias de sustentação eram acessíveis. Porém somente eles creram ser possível e realizaram. O nome disso? , ou convicção. Pode escolher.

É claro que eles poderiam ter acreditado intensamente, mas ainda assim não terem chegado a nada. Claro que poderiam ter morrido na praia. O 14 Bis não foi o primeiro protótipo de Santos Dumont. O mesmo deve ter acontecido com os mestres da informática. Mas suas convicções os mantiveram na perseguição daquilo em que acreditavam. A fé é mesmo impulsionadora e sustentadora. Mas se não tivessem chegado jamais aos seus objetivos, a fé deles teria sido em vão? De jeito algum, pois teria cumprido o seu papel; suas convicções os movimentaram, motivaram, e lhes foi incentivo permanente. Logrado o êxito, a fé acaba. Porque o que se crê então se torna realidade. E sendo realidade irrefutável e provada, não há mais em que se crer. É fato e é consumado.

Ora, os crentes em Jesus Cristo creem na salvação pela graça de Deus. Têm convicção disso e têm o Espírito como penhor dessa salvação[3]. Nessa fé se sustentam dia a dia, e por ela vivem[4]. Não se baseiam em fatos ou circunstâncias, mas na promessa de Deus[5]. E sabemos em quem temos crido[6]. Mas não há qualquer fato que nos garanta isso, senão as evidências que se revelam ao longo de nossa vida de relacionamento com Deus[7]. E mesmo essa relação se sustenta pela fé. E mesmo essa fé um dia deixará de ser necessária. Porque quando o objetivo da alma for alcançado, quando o reino de Deus for fato, então não se crerá mais em nada disso. Porque deixará de ser esperança para ser realidade.

Você diria a essa altura. Mas o reino de Deus é improvável. Sim, é verdade. Improvável. Mas a fé é o que nos move incondicionalmente. E eu amo viver por essa fé. Porque fé é exatamente isso. Crer no improvável; esperar contra a esperança. Talvez por isso seja tão difícil entender a fé. Quem vive dela não busca verdades. As tem, as vive. Insofismavelmente e ainda que ilogicamente. Pela fé se vive; pela fé se morre. E não são poucos aqueles que ao longo da história morreram por sua fé. Quem os poderá julgar? Mas ainda que os julgue, o que neles mudará tal julgamento?

De modo que, realidade ou não realidade, a fé continuará a mover o mundo. Crendo ou não crendo em Deus, pela mesma fé me convenço de que Ele continuará a se relacionar com a humanidade, queira ou não, quem quer que seja. Haverá perpetuamente quem, contrariado, se incomodará e tentará aniquilar a fé. Ela porém permanecerá até o fim. É inerente à humanidade. E por que permanecerá? Porque invisível e intransferível, ela existe na alma. Inatingível por quem quer que seja.

Mas pode alguém perder a fé? Talvez sim, talvez não. Quem o pode saber? Mas isso já é assunto para outro post.



[2]  Salmo 19:1
[3]  Efésios 1:13-14; 2 Coríntios 5:5
[4]  Habacuque 2:4; Romanos 1:17; Gálatas 3:11; Hebreus 10:38
[5]  2 Coríntios 5:7
[6]  2 Timóteo 1:12
[7]  Romanos 8:15-17

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Sabê-lo bom não faz mal


Por Jânsen Leiros Jr.


"Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo"
João 16:33 - JFA

"Eu vos preveni sobre esses acontecimentos para que em mim tenhais paz. Neste mundo sofrereis tribulações; mas tende fé e coragem! Eu venci o mundo"
João 16:33 - KJA

Questionar sobre a vida é um direito legítimo do ser humano. O pensamento é um exercício que nos faz ser diferentes de zebra e samambaias. De modo que, pensar e questionar são atos legítimos em qualquer pessoa, qualquer que seja o mote de tal questionamento, qualquer que seja o caminho de um determinado pensamento.

Por isso quando a bondade de Deus é questionada, não há qualquer sacrilégio nisso, pois que exercício genuíno do potencial humano de pensar. É preciso ter em mente, contudo, que sendo a bondade um atributo, ela é ou ela não é, não podendo haver em parte. Sim, porque se Deus é bom, ou Ele é TODO bem, ou não é bem algum, ainda que pudesse ser às vezes ou na maioria das vezes bom. Porque se há espaço para algum mal, então ele poderá ser todo mal. Mas afinal, Deus é bom ou mal?

Gosto da comparação que assisti outro dia, de dois momentos extremos da vida humana; nascimento e morte. É muito normal ao longo da vida sermos comunicados com toda a alegria, do nascimento de filhos de amigos, filhos de parentes, ou mesmo dos nossos filhos. Apreensivos pelas circunstâncias e pelos riscos envolvidos, ao sermos informados de que correu tudo bem, dizemos: Graças a Deus. E por vezes vi pais e parentes dizerem, com seus rebentos no colo como Deus é bom!

Mas também ao longo da vida vivemos circunstâncias de dor e de grande tristeza, onde nos questionamos por que Deus deixou isso ou aquilo acontecer. Por que permitiu a morte desse ou daquele ente querido... Por que Deus quis que morresse o meu filho? Falo como quem sofreu tal perda e que ainda dói e irá doer pra sempre.

Ora, Deus é bom ou é mal? Ou será que lhe atribuo bom ou mal conforme as circunstâncias que eu vivo? Ou será que Ele é bom ou é mal, dependendo do que me agrada ou me aborrece? Afinal, Deus é bom ou é mal? Ou nós é que vivemos como crianças birrentas, que variam de humor conforme as próprias conveniências?

Nunca houve qualquer promessa de "blindagem" da vida, por Deus ser bom ou ser mal. Muito pelo contrário, a Bíblia afirma que a chuva cai sobre justos e injustos, declarando em alto e bom som que Deus não faz acepção de pessoas. De modo que todos passamos tudo pelo que um ser humano normal pode passar ao longo de uma vida comum; vitórias e derrotas, ganhos e perdas, nascimentos e mortes... No mundo tereis aflições, disse o próprio Jesus. Viver é inquietante e aflitivo. Mas tenham bom ânimo, pois eu venci o mundo.

Essa é uma promessa, e uma promessa redentora. Haverá dor, surgirão dificuldades, os desertos aparecerão ao longo da caminhada; Ele estará sempre ao nosso lado. Sabendo isso, diria o apóstolo Paulo, que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. É a providência cuidando de seus propósitos e de nosso bem.

Dói? Eu sei que dói. E dói em mim, como em tantos outros dói, em tantas outras situações que além da dor, nos deixam confusos e perplexos. Mas tenha bom ânimo, pois eu venci o mundo, diz Jesus aos nossos corações.

Essa sim é a vida real. Vida que se alterna em fatos agradáveis e desagradáveis. Em circunstâncias fáceis e difíceis de serem superadas. Momentos bons ou ruins de serem vividos. Mas Jesus não deixou de saber de nada disso. Viveu tudo, sendo homem experimentado em dores, para em tudo poder nos conduzir à salvação, por meio de sua própria dor. Ora, se o próprio Deus fez questão de pela dor nos conceder a graça de nossa salvação, como não estaria conosco e em nós, nos momentos em que a caminhada fica difícil, e o fôlego para continuar quase nos falta?

Tem bom ânimo. Tenha fé e coragem. Em Cristo nossa momentânea tribulação, se tornará peso de alegria, pois todas as lágrimas serão enxugadas, e todas as explicações nos serão dadas; ou não. Porque também não farão qualquer diferença. O que importa? A sua fé te salvou.


Que o Senhor conforte o seu coração em tudo, fortalecendo sua fé, para que a prova da Sua bondade e graça, se traduza em um coração grato e devotado, ao que Deus jamais resiste. 

Pense bem antes de salgar


Por Jânsen Leiros Jr.


"25 Ora, iam com ele grandes multidões; e, voltando-se, disse-lhes: 26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. 28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar? 29 Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele, 30 dizendo: Este homem começou a edificar e não pode acabar. 31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? 32 No caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, manda embaixadores, e pede condições de paz. 33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.  
34 Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? 35 "Não presta nem para terra, nem para adubo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
Lucas 14:25-35 - JFA

Em Um convite que não cessa mas caduca, falamos de um discurso em que Jesus fez alusão ao banquete no reino dos céus, do qual participarão os justos na ressurreição. Provavelmente tais palavras provocaram essa grande afluência de gente que o seguia, como que se colocando a disposição de um eventual convite de Deus. E era mesmo grande a multidão que o seguia pela Galiléia.

Qualquer mestre da lei daquela época adoraria ser seguido por uma grande multidão de pretensos discípulos. E hoje não é diferente, ou não flagramos pelas redes sociais, disputas vaidosas por quantidade de seguidores. Jesus porém não se ilude com essa pseudo demonstração de aderência à sua doutrina, e confronta essa mesma multidão, repetindo a lógica que já havia utilizado alguns capítulos atrás[1]. Iniciar uma jornada por impulso e depois arrepender-se da atitude pelo visto impensada, é comparável a quem inicia uma empreitada sem antes avaliar todas as implicações e custos que esta exigirá. Parar no meio do empreendimento por mal planejamento é, por assim dizer, vergonhoso e sintoma de impulso imprevidente e até inconsequente.

Mas Jesus ainda faz uma outra comparação, utilizando-se do rei que imagina empreender guerra contra um exército duplamente mais poderoso que o seu, e que não o faz, uma vez que diligentemente considera suas chances, e opta por buscar a paz, antes que vidas sejam perdidas sem qualquer proveito. Grande seria o dano de iniciar tal batalha inglória. É melhor renunciar. Aliás, sugere Jesus, quem não renuncia a si mesmo, entrará numa guerra que não poderá vencer. Iniciará uma obra que por si só não conseguirá completar, a menos que se tenha rendido ao construtor desse edifício.

Ao dizer se alguém vier a mim e não aborrecer, obviamente Jesus não está suscitando ninguém a uma rebeldia aos pais ou a quaisquer outros familiares. Aborrecer, odiar ou mesmo amar mais a, variando conforme as traduções, significa que ninguém, ou desculpa alguma deverá servir para legitimar um futuro retrocesso na decisão tomada de seguir o Cristo de Deus. Iniciar essa marcha e pesar as perdas, já demonstra falta de convicção e inconsistência de propósito. É melhor pensar bem direitinho, pois nem mesmo pai ou mãe serão desculpas aceitáveis para se olhar para traz. Deixa os mortos enterrarem seus mortos[2].

A vida cristã e suas implicações não são de modo algum simples mudanças de hábitos ou de pontos de vista. A vida cristã não é apenas o outro lado de uma mesma moeda, mas é antes uma outra moeda, uma outra lógica. Uma novidade de vida que não se antagoniza simplesmente com a vida deixada para trás, mas sim uma vida que não permite qualquer permanência do que ficou morto lá pra trás. É o novo nascimento ensinado a Nicodemos[3].

Sendo sistemas de valores irreconciliáveis, não há como seguir com a mão no arado trabalhando no reino, olhando para trás e saudoso das coisas que foram abandonadas. Não haverá qualquer possibilidade de conciliação ou de exercício de uma vida dupla. Portanto, quem decide viver tal novidade de vida, deve antes avaliar os custos e os desapegos a que se submeterá. Não por imposição, mas por ação do próprio Espírito no espírito; o novo homem interior que se renova[4].

Mas se tanta gente está seguindo Jesus e aparentemente interessada em sua doutrina, por que ele os confronta? Porque Jesus jamais, em momento algum de seu ministério, permitiu que qualquer um que decidisse segui-lo, o fizesse por impulso inconsistente, ou por frívola e momentânea emoção. Muito pelo contrário. Toda vez que isso estava prestes a acontecer, sempre que as emoções tomavam a condução de uma iminente decisão impensada, ele confrontava o indivíduo, fazendo com que a atitude se sustentasse em resoluta convicção; vai e vende tudo o que tens[5].

Ora, uma vez decidindo-se por ser sal da terra[6], não se deve tornar insípido. Porque para nada se aproveita. Nem mesmo para ser jogado sobre o esterco. Pois para evitar mal cheiro no monturo de esterco (não havia sistema de tratamento de esgoto na época), jogava-se são sobre os dejetos, de modo a minimizar os efeitos do odor e de contaminações. Portanto o sal sem sabor não servirá para nada. Não poderá conservar nada. Não poderá influenciar nada nem ninguém. Não será relevante. Nem mesmo para cobrir dejetos serve. Deverá ser jogado fora. Quem lança mão do arado não pode olhar para trás.

O ser humanos se chega a Deus nas mais adversas e plurais circunstâncias. Mais variáveis ainda são suas motivações. Mas qualquer que tenha sido, precisa contar com a legitimidade do arrependimento e da fé. É preciso ter convicção. E convicção é fé incondicional. O sal não pode perder sabor. Mas perderá sempre que espectros da vida que ficou pra trás, nos distraírem na marcha, caminho da salvação.




[1]  Lucas 9:62
[2]  Lucas 9:62
[3]  João 3:5-7
[4]  Efésio 3:14-19
[5]  Mateus 19:21
[6]  Mateus 5:13
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