Por Jânsen
Leiros Jr.
"
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e
a prova das coisas que não se vêem."
Hebreus 11:1 - JFA
"
Ora, a fé é a certeza de que haveremos de receber o que
esperamos, e a prova daquilo que não podemos ver."
Hebreus 11:1 - KJA
"Ἔστιν δὲ πίστις ἐλπιζομένων ὑπόστασις, πραγμάτων ἔλεγχος οὐ βλεπομένων."
Hebreus 11:1 - Grego
" Now
faith is [the] substantiating of things hoped for, [the] conviction of things
not seen."
Hebreus 11:1 - Darby Bible Translation
Há algum tempo, em virtude dos textos
que divulgo aqui, sou questionado por diversas pessoas que, ora querem uma
explicação mais detalhada sobre algum texto, ora querem entender melhor alguma
posição doutrinária que tenha declarado. Não poucas vezes, porém, há quem
queira questionar fundamentos da cristandade, ou mesmo os fundamentos da
divindade.
Um dos textos que mais gera esse tipo
de retorno é o intitulado Impossível
explicar Deus[1].
Uns respondem que "é claro que se pode explicar Deus", talvez me considerando
um herege. Outros, porém, na outra extremidade, afirmam que crer em Deus seja
um delírio, utilizando-se do título do livro Deus um delírio, de Richard
Dawkins.
De qualquer forma, não são poucas as
vezes que preciso reafirmar ou ampliar a sustentação de minhas posições, já que
aquilo a que nos pretendemos com esse blog tem sido alcançado. Provocar o
pensamento e a fé, ou não, dos que se ocupam em pensar em Deus. Teólogos de
ocasião ou por dedicação, que fazem do tema uma deliciosa e prazerosa fonte de
devoção, seja por aceitação ou negação.
Assim, e motivado por esses adoráveis
interlocutores, passo a descrever alguns desses debates, obviamente ocultando o
nome dos participantes, até mesmo porque adaptamos algumas partes e editamos
outras, com vistas a melhor compreensão de quem dele participará a partir desse
novo texto. Espero que lhes seja relevante.
. . .
Por que vocês
consideram a fé uma prova de coisas
que não podem ser vistas? Como a fé pode ser prova de alguma existência? Se
alguém tiver fé absoluta na existência
de duendes eles passam a existir?
Ótima observação. Mas há mesmo um
equívoco nisso. A fé não prova nada. Não no sentido jurídico, que é o sentido
como entendemos prova em nossa cultura. A fé me faz agir mas não baseado em
prova, e sim em convicção. Quando o texto traduz prova, dá a ideia de que o
objeto da fé não pode sequer ser questionado, que no senso comum, sugere algo
semelhante a fato irrefutável ou inquestionável. Creio que a palavra seria
melhor traduzida como convicção, o que melhor demonstraria o poder impulsionador
da fé. Diante daquilo para o que não há qualquer prova ou evidência irrefutável,
o que nos move é a convicção, o que nos impulsiona é tão somente a fé.
O valor da fé está exatamente em
conduzir ao improvável. Caso a fé se baseasse em fatos e evidências, como
ressalto no texto, não seria fé, mas apenas constatação razoável, uma conclusão
inevitável, que não deixaria qualquer margem de dúvida. Não há como crer ou não
crer no que é irrefutável; apenas aceita-se ou não. Mas não cabe fé ou não fé
quando o fato está diante dos próprios olhos. O apóstolo Paulo faz bem essa
advertência . Por isso insisto que a tentativa de explicar Deus não pode ser,
senão, uma elucubração sobre a experiência pessoal com ele, que apesar de poder
ser comunicada, é uma realidade individual e intransferível.
Obviamente ter fé de que duendes
existem não os farão existir no mundo e nem para todos. Mas os farão existir
para aqueles que neles acreditam. Você encontrará quem relate encontros com
duendes, como há quem creia em ETs, e garante com todas as suas forças e
argumentações, tê-los vistos, ter conversado com eles, ou mesmo ter sido
raptado e até operado por eles. Isso nos leva a uma outra e pertinente questão,
em que o ponto de distinção não está na fé como exercício da convicção, mas no
que é que se tem fé.
O texto que você leu, entre outros
aspectos, tem o intuito de dizer aos demais crentes em Deus, nosso Criador, e
em seu Filho Jesus, nosso Salvador, que aquilo em que nós cremos e aceitamos,
que aquilo que nos impulsiona e nos faz viver, pode, no máximo, ser comunicado,
mas jamais imposto a ninguém. Por quê? Porque a fé é uma experiência única e
exclusivamente individual. Ela é intransferível, ainda que comunicável pelo
testemunho e pela argumentação. A afirmação é direito de quem crê, mas jamais a
imposição ou o sugestionamento. Do contrário, onde estaria a legitimidade da
fé? Voluntariedade, uma outra característica insofismável da fé. Não há nada
pior do que alguém infernizando o nosso juízo, querendo nos impor uma crença ou
mesmo uma não crença, pela qual não temos impulso íntimo e genuíno.
Portanto, fé não é prova, mas uma
convicção que me impulsiona a vida.
Discordo totalmente da
ideia de que ter fé faça com que algo
exista para uma determinada pessoa. A existência não está condicionada a crença
e sim a realidade. Se uma pessoa tiver muita fé de que pode voar e se jogar do
prédio, ela não vai cair pra mim e voar para ela...
Achar que existe
valor em acreditar sem boas evidências (veja que não estou usando o termo prova
mas sim evidências), é tão absurdo que você só abre exceção para a religião, pois
se abrisse para o resto das questões cotidianas o mais provável é que acabasse
morto.
Como tenho por meta
acreditar na maior quantidade de coisas possíveis que sejam verdadeiras e na menor possível que
sejam falsas, me baseio no método que
se mostrou mais eficiente para esta função até hoje que é só acreditar naquilo
para o que existam boas evidências, e portanto não considero bom para ninguém
basear suas crenças na fé, ela estará
somente aumentando as chances de estar errada.
Por isso apesar de
saber que é com boas intenções, e que você não vê a fé como algo negativo como
eu vou te pedir que não peça para que eu tenha fé.
Foi ótimo você usar a palavra
evidência, porque outra vez voltamos para dentro do texto que eu escrevi, base
de todo nosso debate até agora. Exatamente pelo que disse antes, não há
qualquer prova da existência de Deus, como também não há de sua inexistência,
senão as evidências que considero relevantes em minha relação íntima com ele. E
o campo de atuação dessa eventual relação é a psiqué, onde ninguém mais além de
mim, pode entrar e encontrar as evidências que encontro. Deus se revela separadamente
a cada ser humano, ainda que determinadas evidências sejam públicas e disponíveis
a todos. Eu explico.
O salmista afirma que os céus declaram
a glória de Deus, e que eles anunciam as obras das suas mãos[2].
Ora, se declaram e anunciam o fazem a todos, pois todos têm acesso aos céus e
às coisas criadas; as evidências.
Porém elas não são provas para mim, mas hipóteses
ou indícios de que há Deus. O que me
levará a essa convicção impulsionadora à relação com ele é exatamente a fé.
Portanto a convicção induz e conduz à crença.
Mas usando o próprio exemplo que você
mesmo deu, veja como a fé é capaz de movimentar o indivíduo na direção daquilo
em que acredita. Convicto de que há dinheiro na conta, alguém pode sair
gastando esse dinheiro acreditado,
porém não creditado. Ainda que não
existente, ele agirá nessa fé. Convicto de que poderá voar, alguém pode atirar-se
de um penhasco e morrer. E foi em sua fé que terá morrido.
Então retornamos ao ponto em que, a
diferença, se estabelece pelo objeto em que é que se tem fé, e não na fé propriamente dita. Sim, porque confiando
que suas ideias poderiam ser revolucionárias, Steve Jobs e Bill Gates se lançaram
no mercado de informática, que ainda engatinhava, e se tornaram milionários com
suas criações. Da mesma forma, crendo que seria capaz de desenvolver um equipamento
que nos viabilizasse voar, Santos Dumont criou o avião. E tantas outras pessoas
trouxeram à existência o que antes não existia, baseados em suas crenças e em
suas convicções.
Ao contrário disso, muitos outros
homens e mulheres, diante das mesmas evidências não creram ser possíveis os
mesmos intentos ou inventos. As condições e possibilidades eram públicas, ainda
que não populares. As tecnologias de sustentação eram acessíveis. Porém somente
eles creram ser possível e realizaram. O nome disso? Fé, ou convicção. Pode
escolher.
É claro que eles poderiam ter
acreditado intensamente, mas ainda assim não terem chegado a nada. Claro que
poderiam ter morrido na praia. O 14
Bis não foi o primeiro protótipo de Santos Dumont. O mesmo deve ter acontecido
com os mestres da informática. Mas suas convicções os mantiveram na perseguição
daquilo em que acreditavam. A fé é mesmo impulsionadora e sustentadora. Mas se
não tivessem chegado jamais aos seus objetivos, a fé deles teria sido em vão?
De jeito algum, pois teria cumprido o seu papel; suas convicções os
movimentaram, motivaram, e lhes foi incentivo permanente. Logrado o êxito, a fé
acaba. Porque o que se crê então se torna realidade. E sendo realidade
irrefutável e provada, não há mais em que se crer. É fato e é consumado.
Ora, os crentes em Jesus Cristo creem
na salvação pela graça de Deus. Têm convicção disso e têm o Espírito como
penhor dessa salvação[3].
Nessa fé se sustentam dia a dia, e por ela vivem[4].
Não se baseiam em fatos ou circunstâncias, mas na promessa de Deus[5].
E sabemos em quem temos crido[6].
Mas não há qualquer fato que nos garanta isso, senão as evidências que se revelam
ao longo de nossa vida de relacionamento com Deus[7].
E mesmo essa relação se sustenta pela fé. E mesmo essa fé um dia deixará de ser
necessária. Porque quando o objetivo da alma for alcançado, quando o reino de
Deus for fato, então não se crerá
mais em nada disso. Porque deixará de ser esperança para ser realidade.
Você diria a essa altura. Mas o reino
de Deus é improvável. Sim, é verdade. Improvável. Mas a fé é o que nos move
incondicionalmente. E eu amo viver por essa fé. Porque fé é exatamente isso.
Crer no improvável; esperar contra a esperança. Talvez por isso seja tão
difícil entender a fé. Quem vive dela não busca verdades. As tem, as vive.
Insofismavelmente e ainda que ilogicamente. Pela fé se vive; pela fé se morre.
E não são poucos aqueles que ao longo da história morreram por sua fé. Quem os
poderá julgar? Mas ainda que os julgue, o que neles mudará tal julgamento?
De modo que, realidade ou não realidade,
a fé continuará a mover o mundo. Crendo ou não crendo em Deus, pela mesma fé me
convenço de que Ele continuará a se relacionar com a humanidade, queira ou não,
quem quer que seja. Haverá perpetuamente quem, contrariado, se incomodará e tentará
aniquilar a fé. Ela porém permanecerá até o fim. É inerente à humanidade. E por
que permanecerá? Porque invisível e intransferível, ela existe na alma.
Inatingível por quem quer que seja.
Mas pode alguém perder a fé? Talvez
sim, talvez não. Quem o pode saber? Mas isso já é assunto para outro post.
Aaaah a Fé, palavra tão curta mais que em diversos momentos nos proporcionam tamanha esperança em nossos corações... Não importa as circunstâncias ele literalmente muita das vezes nos faz mover montanhas e até mesmo suportar o peso delas nas costas por Amor de uma causa ou sonho, que podemos não viver agora,mais que pelos olhos da fé nos vemos desfrutando futuramente para a glória de Deus..
ResponderExcluirOi Nathália, que precioso comentário! A fé é mesmo o que nos move e nos faz perseguir o que esperamos. É o que nos move incondicionalmente na direção da expectativa mais legítima. A fé ainda produz esperança, que nos faz descansar em Deus. Obrigado pelo carinho de acompanhar esse trabalho. Que o Senhor abençoe seu coração e mente. Um forte abraço...
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