terça-feira, 12 de maio de 2015

Discípulo; vida alternativa ou nova criatura?




13 Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele.14 Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar"
Marcos 3:13-14 - RA
        
Mantendo ainda o assunto do último texto, sobre a proximidade com aqueles a quem devemos ser sal e luz, creio que podemos nos prolongar na questão do discipulado, considerando que somos discípulos e discipuladores em uma mesma caminhada, não nos sendo possível descolar uma essência da outra, pois o que somos, o somos simultaneamente.

Seguindo na linha da semana passada, podemos reafirmar que discipular é trazer para perto, é estar próximo. A ponto de influenciar, estimular, servir de exemplo... Ensinar. Não há como fazer discípulos e os manter longe. Os discípulos dos rabinos judeus se mantinham tão próximos e atentos às suas atitudes, que certo ditado dizia que lhes cobriam os pés, a poeira dos pés de seus mestres. Também Jesus agiu assim, trazendo para mais perto e para seu convívio diário, aqueles aos quais faria apóstolos.

O discipulador precisa ser o exemplo. Precisa ser aquele que naturalmente vive em seu cotidiano, tudo aquilo que crê e ensina, fugindo da capa de santo acusador, e se revestindo de amor e compaixão. Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo[1], dizia Paulo aos cristãos em Corintos, tendo ele mesmo a certeza de que era exemplo e referência para aqueles a quem pregou o evangelho do Reino.

Porém o discipulador é antes um discípulo. E ser discípulo de Jesus, não é ter um jeito diferente de ver o mundo, não é ter hábitos alternativos; cristianismo não é estilo de vida. Ser discípulo de Jesus é ser outra pessoa. Ou será sem motivo que precisamos nascer de novo?[2] Se é preciso nascer de novo, é porque o que somos ou fomos, não poderá jamais em novidade de vida.


“Vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador."
Lucas 5:8 - JFA


“Então disse eu: Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!"
Isaias 6:5 - JFA

Há uma distância entre quem somos e o que Deus é. E, de novo, essa distância não é moral, mas antes ontológica. Ou seja, somos distanciados não pelo que fazemos ou deixamos de fazer, mas sim por quem somos. Tanto Pedro quanto Isaias perceberam isso ao serem confrontados com a natureza divina. O susto foi grande para ambos, tanto que um preferiria que Jesus sumisse de perto dele, e o outro tinha por certa a morte como conseqüência daquele encontro.

Mas na verdade, ao reconhecerem tal distância, tal abismo, lhes foram reveladas suas realidades, suas verdades existenciais. - Sou homem pecador, diz Pedro ainda assombrado. - Sou um homem de lábios impuros, assustado grita Isaias. Ambos poderiam dizer: - Não sou digno de ti. E assim tanto um quanto o outro deram o primeiro passo para nascerem de novo; reconheceram-se distantes, necessitados, pobres... deles é o Reino dos Céus. Pois reconhecer que não é possível ser igual a Deus, é o caminho inverso do pecado original.

Assim, o primeiro passo do discipulador é tornar-se um discípulo. Ninguém pode ensinar aquilo que não aprendeu. Ninguém pode falar com legitimidade sobre aquilo que não experimenta. O discípulo é aquele que nascido de novo, recomeça em uma nova vida, sendo nova criatura. E essa nova criatura se alimentará da proximidade de seu mestre, Jesus. Só assim poderá alimentar a outros. Só assim poderá ensinar. Afinal, a boca fala do que está cheio o coração.




[1] 1 Co. 11:1
[2] Jo. 3:1-21

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