“13 Depois, subiu ao monte e chamou
os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele.14 Então, designou doze para estarem
com ele e para os enviar a pregar"
Marcos 3:13-14 - RA
Mantendo ainda o assunto do último
texto, sobre a proximidade com aqueles a quem devemos ser sal e luz, creio que
podemos nos prolongar na questão do discipulado, considerando que somos
discípulos e discipuladores em uma mesma caminhada, não nos sendo possível
descolar uma essência da outra, pois o que somos, o somos simultaneamente.
Seguindo na linha da semana passada,
podemos reafirmar que discipular é trazer para perto, é estar próximo. A ponto
de influenciar, estimular, servir de exemplo... Ensinar. Não há como fazer
discípulos e os manter longe. Os discípulos dos rabinos judeus se mantinham tão
próximos e atentos às suas atitudes, que certo ditado dizia que lhes cobriam os
pés, a poeira dos pés de seus mestres. Também Jesus agiu assim, trazendo para
mais perto e para seu convívio diário, aqueles aos quais faria apóstolos.
O discipulador precisa ser o exemplo.
Precisa ser aquele que naturalmente vive em seu cotidiano, tudo aquilo que crê
e ensina, fugindo da capa de santo acusador,
e se revestindo de amor e compaixão. Sede
meus imitadores, como também eu o sou de Cristo[1],
dizia Paulo aos cristãos em Corintos, tendo ele mesmo a certeza de que era
exemplo e referência para aqueles a quem pregou o evangelho do Reino.
Porém o discipulador é antes um
discípulo. E ser discípulo de Jesus, não é ter um jeito diferente de ver o
mundo, não é ter hábitos alternativos; cristianismo
não é estilo de vida. Ser discípulo de Jesus é ser outra pessoa. Ou
será sem motivo que precisamos nascer de
novo?[2]
Se é preciso nascer de novo, é porque o que somos ou fomos, não poderá jamais
em novidade de vida.
“Vendo isso Simão Pedro,
prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um
homem pecador."
Lucas 5:8 - JFA
“Então disse eu: Ai de mim! pois
estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de
impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!"
Isaias 6:5 - JFA
Há uma distância entre quem somos e o
que Deus é. E, de novo, essa distância não é moral, mas antes ontológica. Ou
seja, somos distanciados não pelo que fazemos ou deixamos de fazer, mas sim por
quem somos. Tanto Pedro quanto Isaias perceberam isso ao serem confrontados com
a natureza divina. O susto foi grande para ambos, tanto que um preferiria que
Jesus sumisse de perto dele, e o outro tinha por certa a morte como
conseqüência daquele encontro.
Mas na verdade, ao reconhecerem tal
distância, tal abismo, lhes foram reveladas suas realidades, suas verdades
existenciais. - Sou homem pecador,
diz Pedro ainda assombrado. - Sou um
homem de lábios impuros, assustado grita Isaias. Ambos poderiam dizer: - Não sou digno de ti. E assim tanto um
quanto o outro deram o primeiro passo para nascerem de novo; reconheceram-se
distantes, necessitados, pobres... deles
é o Reino dos Céus. Pois reconhecer que não é possível ser igual a Deus, é
o caminho inverso do pecado original.
Assim, o primeiro passo do
discipulador é tornar-se um discípulo. Ninguém pode ensinar aquilo que não
aprendeu. Ninguém pode falar com legitimidade sobre aquilo que não experimenta.
O discípulo é aquele que nascido de novo, recomeça em uma nova vida, sendo nova
criatura. E essa nova criatura se alimentará da proximidade de seu mestre,
Jesus. Só assim poderá alimentar a outros. Só assim poderá ensinar. Afinal, a boca fala do que está cheio o coração.
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