Por Jânsen Leiros Jr.
“1 Estava Jesus em certo lugar
orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a
orar, como também João ensinou aos seus discípulos. 2
Ao que ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome;
venha o teu reino; 3 dá-nos cada dia o nosso pão
cotidiano; 4 e perdoa-nos os nossos pecados,
pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar
em tentação, [mas livra-nos do mal.]
5
Disse-lhes também: Se um de vós tiver um amigo, e se for procurá-lo à
meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, 6
pois que um amigo meu, estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o
que lhe oferecer; 7 e se ele, de dentro, responder:
Não me incomodes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na
cama; não posso levantar-me para te atender; 8 digo-vos que, ainda que se
levante para lhos dar por ser seu amigo, todavia, por causa da sua
importunação, se levantará e lhe dará quantos pães ele precisar.
9
Pelo que eu vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
10
pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.
11
E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou,
se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? 12
Ou, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13 Se vós, pois, sendo maus, sabeis
dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito
Santo àqueles que lho pedirem?"
Lucas
11:1-13 - JFA
Na esfera da religiosidade, a oração
sempre esteve envolta em mistérios, tornando-se objeto de constante de
questionamentos, estudos, e diversas análises por parte de teólogos, cientistas
da religião, palestrantes e curiosos. Sendo chamada de oração, reza, ou prece, conforme a doutrina professada, o
ato ou rito que pretende impulsionar o devoto àquilo que considera sagrado, sempre
causou expressivo interesse de todos os que se envolvem no aprofundamento do conhecimento
de suas essências divinais.
Com os discípulos de Jesus não foi
diferente, embora suas motivações tenham sido um pouco mais imediatistas. O texto
de Lucas revela que João Batista já havia se ocupado em ensinar seus discípulos
a orar. Os de Jesus, por sua vez, talvez achassem estranho que até aquele
momento ele não o tivesse feito, ou mesmo demonstrado interesse em fazê-lo. Lucas
parece ter uma preocupação temática, e não é sem motivo que ele coloca aqui este
relato, ainda que breve, sobre o Pai Nosso, conhecida como a oração ensinada por Jesus.
- Pai
que reina no céu, igualmente reine aqui na terra. Que tenhamos diariamente
apenas o bastante para o nosso sustento, e a exemplo do perdão que concedemos
aos que nos fazem mal, perdoa também as nossas transgressões. Somos fracos, por
isso não nos deixe sequer ser envolvidos em tentações, livrando-nos antes do
mal que nos avizinha. Essa seria uma interpretação livre do que Jesus
ensina, que nada tem a ver com uma oração,
reza ou prece a ser repetida, sendo antes de mais nada, uma postura que o
seu discípulo deve ter diante do domínio de Deus sobre sua vida cotidiana. Um
reinado efetivo de Deus, que em vez de se dar à barganha por uma vida de abastança,
prosperidade material, ou mesmo de realização pessoal, garante o sustento da
vida e das boas relações entre os homens, além de um coração puro.
Ora, se atender a um pedido insistente
de alguém é mais do que natural entre os seres humanos, mesmo que seja apenas
para se livrar do pedinte, muito mais nos atenderá o Senhor. Pois se nós, por
pior que sejamos como indivíduos, sabemos e nos interessamos em dar bons
presentes aos nossos filhos, muito mais nos fará o bem, o bom e misericordioso
Deus e Pai. Tal insistência, porém, tem alvo e direção; quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho
pedirem.
Os discípulos de Jesus, aqueles que
conviviam diariamente com ele, percebiam que a capacidade para realizar todos
os milagres que presenciaram, tinha alguma ligação com sua dedicação à oração.
E talvez pensassem que o segredo
estivesse na forma ou no conteúdo da oração. E como ele estivera há pouco
orando, que melhor ocasião e oportunidade para pedir; Senhor, ensina-nos a orar?
Ora, eles claramente tinham em mente
que Jesus lhes passaria uma regra, uma fórmula mágica, que engendrasse as
palavras de uma maneira que lhes funcionasse como um chave para abrir as portas
do poder realizador, de tudo a que se pretendessem fazer. Outros rabinos também
se ocupavam em ensinar suas orações, suas rezas. Entre os povos gentios era
comum o uso de vãs repetições, numa sequência que se pretendia mágica, ou capaz
de mover a mão de Deus[1].
O que Jesus porém, ensina nas
entrelinhas de seu discurso, é que a capacidade de executar tudo o que realiza,
não vem da forma ou do conteúdo de sua oração, mas do Espírito
Santo, que Deus o pai concede a quem quer que lhe peça. Por isso, pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis;
batei, e abrir-se-vos-á; pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao
que bate, abrir-se-lhe-á. Se queremos realizar tudo aquilo a que Jesus nos
comissiona, precisamos estar inspirados e plenos do seu Espírito. É isso que
devemos pedir a Deus.
Como há gente ensinando mantras, orações,
rezas e preces poderosas, que ditas de determinadas formas, proferidas em
determinados lugares[2],
ou ainda pronunciadas em horários específicos, tocará os céus de um modo
especial, de sorte que Deus se verá obrigado ou constrangido a atender. Procuramos
adular Deus para que ele faça-nos o que pretendemos. Seja lá o que venhamos a
pretender. No reino de Deus, o poder realizador é do seu Espírito, que habita
em nós, e em nós realiza tanto o querer, quanto o efetuar[3].