Por Jânsen Leiros Jr.
“51 Ora, quando se completavam os
dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. 52
Enviou, pois, mensageiros adiante de si. Indo eles, entraram numa aldeia de
samaritanos para lhe prepararem pousada. 53 Mas não o receberam, porque viajava
em direção a Jerusalém. 54 Vendo isto os discípulos Tiago e
João, disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir
[como Elias também fez?] 55 Ele porém, voltando-se,
repreendeu-os, [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.] 56
[Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para
salvá-las.] E foram para outra aldeia.
57
Quando iam pelo caminho, disse-lhe um homem: Seguir-te-ei para onde quer que
fores. 58
Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o
Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. 59 E a outro disse: Segue-me. Ao
que este respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. 60
Replicou-lhe Jesus: Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu,
porém, vai e anuncia o reino de Deus. 61 Jesus, porém, lhe respondeu:
Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus."
Lucas
9:51-61 - JFA
Diante da negativa sobre as pretensões
de pousarem na hospedaria daquela aldeia samaritana, Tiago e João, indignados,
queriam orar pedindo que o fogo consumidor de Deus destruísse aquele
estabelecimento. Eles foram advertidos por Jesus, que não caberia qualquer
retaliação a quem quer que fosse, pois seu papel era o de salvação e não de
destruição de vidas humanas. Como havia ele mesmo orientado os discípulos
anteriormente, não haveria de se impor a quem o rejeitasse.
Essa, inclusive, é uma das mais
importantes características da mensagem de Jesus; a liberdade do homem, tanto
para nele crer, quanto para rejeitá-lo. Não há imposição. Não pode haver. Se
qualquer um de nós fosse por Deus obrigado a crer n'Ele, não haveria perfeição
em seu amor, pois a ordem imposta não é perfeita em amor.
E o texto acima fala exatamente sobre aceitação e convívio com Jesus. Ao primeiro que se aproximou ele disse que nada
teria a dar em troca, se não a providência de Deus dia a dia, para o que é essencial
à vida. Nem lugar certo para repousar haveria. Jesus fez esse alerta, porque
muitos se empolgavam ao verem seus sinais e prodígios. Se encantavam com os holofotes
do espetáculo de poder, mas não estavam preparados para a morte em relação as
vicissitudes da vida. Criam que tal poder lhes garantiria uma vida de opulência
e prosperidade material. As raposas têm
covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar
a cabeça.
Já o segundo após ouvir a resposta de
Jesus, tentou arrumar uma desculpa. E tentou argumentar de um maneira, no seu
entendimento, irrefutável. Mas Jesus lhe deu uma resposta ainda mais
contundente, pois quem não escolhe caminhar
com ele, está tão morto quanto aqueles que pretendia enterrar. Ou seja, muitos
se afastam de Jesus, diante da perspectiva da morte para a vida que acreditam
muito melhor e mais agradável, do que aquela que poderão ter ao lado de Jesus,
na comunhão com Deus. Deixa os mortos
sepultar os seus próprios mortos.
Mas a advertência mais forte é a
final. Ela se assemelha ao mesmo comportamento da mulher de Ló, que livre da
destruição de Sodoma e Gomorra, olha para traz, lamentando o que deixou. Olhar
para traz, significa claramente não ter escolhido genuinamente abandonar o que
lhe prendia. Significa preferir o que está fora do Reino, ou o que nele não
pode entrar. Quem olha para traz, jamais abandonou a vida que levava. Jamais
optou legitimamente por Deus. Apenas se enganou.
Ora, se a escolha por Deus não nos é
em momento algum imposta, por que tantos se enganam e enganam a tantos, sobre
suas decisões falsas e superficiais? Porque no fundo acreditam que se
locupletarão pela proximidade com o
reino. Não nasceram de novo, mas se travestiram convenientemente de crianças que
precisam de leite, enquanto comem de suas próprias carnes às escondidas, na
oportuna privacidade de suas vidas reservadas e impublicáveis. Negam o princípio
óbvio de que estar ao lado não é estar dentro. Nem mesmo estar à porta.
Mas não há só enganadores mordazes. Diante
da vida desafiadora que o evangelho propõe, há os que sinceramente claudicam e
temem segui-la, abandonando tudo o que suas vidas lhes proporcionaram até agora.
É mesmo uma decisão que deve ser tomada com convicção e propósito, porque ninguém
engana Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus. Por isso mesmo, dirá alguém
mais tarde, voltar atrás será como o porco que lavado retorna à lama.
Que Deus em sua infinita bondade e
graça, nos confirme dia a dia nesse caminho de alegre abnegação, porque não há
mais bem-aventurada aventura, do que caminhar com Jesus. Ninguém que lança mão do
arado e olha para trás é apto para o reino de Deus.
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