segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Um caminho que não aceita volta


Por Jânsen Leiros Jr.


51 Ora, quando se completavam os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. 52 Enviou, pois, mensageiros adiante de si. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe prepararem pousada. 53 Mas não o receberam, porque viajava em direção a Jerusalém. 54 Vendo isto os discípulos Tiago e João, disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir [como Elias também fez?] 55 Ele porém, voltando-se, repreendeu-os, [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.] 56 [Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las.] E foram para outra aldeia. 

57 Quando iam pelo caminho, disse-lhe um homem: Seguir-te-ei para onde quer que fores. 58 Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. 59 E a outro disse: Segue-me. Ao que este respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. 60 Replicou-lhe Jesus: Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus. 61 Jesus, porém, lhe respondeu: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus."
Lucas 9:51-61 - JFA

Diante da negativa sobre as pretensões de pousarem na hospedaria daquela aldeia samaritana, Tiago e João, indignados, queriam orar pedindo que o fogo consumidor de Deus destruísse aquele estabelecimento. Eles foram advertidos por Jesus, que não caberia qualquer retaliação a quem quer que fosse, pois seu papel era o de salvação e não de destruição de vidas humanas. Como havia ele mesmo orientado os discípulos anteriormente, não haveria de se impor a quem o rejeitasse.

Essa, inclusive, é uma das mais importantes características da mensagem de Jesus; a liberdade do homem, tanto para nele crer, quanto para rejeitá-lo. Não há imposição. Não pode haver. Se qualquer um de nós fosse por Deus obrigado a crer n'Ele, não haveria perfeição em seu amor, pois a ordem imposta não é perfeita em amor.

E o texto acima fala exatamente sobre aceitação e convívio com Jesus. Ao primeiro que se aproximou ele disse que nada teria a dar em troca, se não a providência de Deus dia a dia, para o que é essencial à vida. Nem lugar certo para repousar haveria. Jesus fez esse alerta, porque muitos se empolgavam ao verem seus sinais e prodígios. Se encantavam com os holofotes do espetáculo de poder, mas não estavam preparados para a morte em relação as vicissitudes da vida. Criam que tal poder lhes garantiria uma vida de opulência e prosperidade material. As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

Já o segundo após ouvir a resposta de Jesus, tentou arrumar uma desculpa. E tentou argumentar de um maneira, no seu entendimento, irrefutável. Mas Jesus lhe deu uma resposta ainda mais contundente, pois quem não escolhe caminhar com ele, está tão morto quanto aqueles que pretendia enterrar. Ou seja, muitos se afastam de Jesus, diante da perspectiva da morte para a vida que acreditam muito melhor e mais agradável, do que aquela que poderão ter ao lado de Jesus, na comunhão com Deus. Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos.

Mas a advertência mais forte é a final. Ela se assemelha ao mesmo comportamento da mulher de Ló, que livre da destruição de Sodoma e Gomorra, olha para traz, lamentando o que deixou. Olhar para traz, significa claramente não ter escolhido genuinamente abandonar o que lhe prendia. Significa preferir o que está fora do Reino, ou o que nele não pode entrar. Quem olha para traz, jamais abandonou a vida que levava. Jamais optou legitimamente por Deus. Apenas se enganou.

Ora, se a escolha por Deus não nos é em momento algum imposta, por que tantos se enganam e enganam a tantos, sobre suas decisões falsas e superficiais? Porque no fundo acreditam que se locupletarão pela proximidade com o reino. Não nasceram de novo, mas se travestiram convenientemente de crianças que precisam de leite, enquanto comem de suas próprias carnes às escondidas, na oportuna privacidade de suas vidas reservadas e impublicáveis. Negam o princípio óbvio de que estar ao lado não é estar dentro. Nem mesmo estar à porta.

Mas não há só enganadores mordazes. Diante da vida desafiadora que o evangelho propõe, há os que sinceramente claudicam e temem segui-la, abandonando tudo o que suas vidas lhes proporcionaram até agora. É mesmo uma decisão que deve ser tomada com convicção e propósito, porque ninguém engana Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus. Por isso mesmo, dirá alguém mais tarde, voltar atrás será como o porco que lavado retorna à lama.


Que Deus em sua infinita bondade e graça, nos confirme dia a dia nesse caminho de alegre abnegação, porque não há mais bem-aventurada aventura, do que caminhar com Jesus. Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus.

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