terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Filho revela o Pai. E nós, o que revelamos?


Por Jânsen Leiros Jr.


17 Voltaram depois os setenta com alegria, dizendo: Senhor, em teu nome, até os demônios se nos submetem. 18 Respondeu-lhes ele: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. 19 Eis que vos dei autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; e nada vos fará dano algum. 20 Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus. 

21 Naquela mesma hora exultou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos; sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. 22 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 

23 E voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes. 24 Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram."
Lucas 10:17-24 - JFA

Não há registro do tempo gasto pelos discípulos nessa missão. O que se pode perceber, contudo, é que houve grande sucesso, pois Jesus comenta sobre as reações enfurecidas de Satanás. Essa passagem é controversa em sua explicitação, mas de certa forma também não teria relevância teológica por definição, se não apenas considerando sua contextualização; de que a missão dos discípulos abalou as hostes do mal.

E por mais enfurecido que ele, Satanás, possa ficar, completa Jesus, nenhum dano lhes poderá causar, pois ele, Jesus, nos deu autoridade para pisarmos serpentes e escorpiões; figuras do mal e de suas representações. Sobre todo o poder do inimigo, de modo que nenhuma retaliação precisará jamais ser temida, quando de nossas investidas a pregar o evangelho do Reino.

Isso é mais do que alentador. É desafiante e revelador, pois muitos há que pensam que ao realizarem a vontade de Deus, sofrerão retaliação do mal, e temem fazer o que lhes está proposto por vocação e chamado. Não estamos falando obviamente de agirmos desafiadoramente, pois não temos espírito de contenda[1], mas em realizando a vontade do Senhor no anúncio e pregação do evangelho da salvação, não temos que temer a quem quer que seja; muito menos investidas do mal.

Notem que não estamos ainda dizendo que nos tornamos inatingíveis ou super-homens. De jeito algum, mas precisamos nos imbuir da confiança de que fazendo a vontade do nosso Senhor e Deus, nada nos acontecerá que Ele mesmo não queira. Ou não cremos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus?[2] Até porque seremos bem-aventurados se, a exemplo de nosso Senhor, formos perseguidos, e se por amor ao seu nome formos mal tratados e caluniados[3]. Em tudo e por tudo daremos graça[4].

Jesus, porém, faz uma importante advertência. Tal autoridade sobre o mal não quer dizer grande coisa. Não é o mais importante. Na verdade não é nada comparado à salvação de nossas almas, cuja garantia é o nome escrito nos céus. Essa autoridade sobre o mal não é um fim em si mesma. Antes ela é apenas um instrumento no avanço do reino de Deus. Aliás, Jesus por vezes coloca tais manifestações em segundo plano, evidenciando contudo o resgate da vida daquele em quem o milagre se deu. A salvação é maior que o milagre. A salvação é o objetivo final; a redenção. A autoridade sobre o mal e o milagre, apenas um meio.

Nos versículos 21 e 22 Jesus então exalta Deus pela inversão do entendimento da essência do seu reino de Deus, entendida e vivenciada pelos pequeninos, desprezados, e sem importância, em detrimento dos doutores e entendidos da lei, mergulhados em religiosidade vil e em nada piedosa. É a sabedoria de Deus se fazendo loucura para o mundo. Além disso, tendo eles, os doutores da lei e seus próximos, rejeitado Jesus como o Filho de Deus, rejeitaram na verdade a Deus, pois somente o Filho revela o Pai[5].

Essa foi a grande loucura à qual jamais se permitiram aquiescer os doutores da lei. Deus escolheu as coisas simples do mundo. Enquanto se esperava o nascimento do Rei Messias através da família real palaciana, ele nasceu de um ramo simples, em uma manjedoura, sendo reconhecido como rei e redentor por religiosos de outros povos,[6] e saudado por pastores[7]. O verdadeiro Messias revelou o Deus invisível a homens igualmente simples, em sua maioria pescadores, a quem o anúncio da salvação foi confiada para a glória de Deus Pai. Uma sabedoria controversa, jamais entendida ou crida por homens loucos, sufocados pela opulência de seus conhecimentos ineficazes à alma.

Quantos homens de Deus, profetas e reis, viveram na esperança de verem a salvação do nossos Deus, e não lhes foi possível, diz Jesus no verso 24. Os discípulos estavam tendo esse grande privilégio, bem como nós o temos nos dias de hoje, que cremos por fé, dom de Deus, pela qual sequer podemos nos gloriar[8]. Vivenciamos a história completa. Somos personagens dela, viventes em um reino divinal estabelecido em nossos corações[9]. Por que temer o mal, se vivemos em nós, pelo Espírito do Senhor, todo o bem?

A autoridade nos foi dada sobre todas as coisas, a exemplo do domínio dado a Adão quando da criação[10]. Não há nada o que temer, por mais assustadora que seja a circunstância, ou mais feroz e implacável que pareça o oponente. Quem apresentamos ao mundo, nós que vivemos o privilégio da graça?

Ainda há quem se pilhe de desculpas para não testemunhar a salvação de Deus; seja por medo, seja por timidez. Jesus, o Filho, revelou Deus, o Pai. E nós, a quem temos revelado? Ser discípulo e testemunha, é revelar o caráter de Cristo em nós. Para que assim como ele revelou a seu Pai, nós revelemos em nós, o salvador de nossas almas. Que o Espírito de Deus nos capacite com confiança e ousadia, para que nossas vidas reflitam a graça que nos alcançou, e possamos experimentar dia a dia, a revelação em nós, do Filho de Deus.



[1]  Romanos 13:13; Filipenses 2:3
[2]  Romanos 8:28
[3]  Mateus 5: 11-12
[4]  Efésios 5:20
[5]  Hebreus 1:1-3
[6]  Mateus 2:1-12
[7]  Lucas 2:15-20
[8]  Efésios 2:8-9
[9]  Lucas 2:25-32
[10]  Gênesis 1:27-28

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