sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

=> O preguiçoso, o diligente e La Fontaine



6 Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. 7 Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, 8 no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. 9 Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? 10 Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, 11 assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado.”
                   Provérbios 6:6-11 - RA


“Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, levam à penúria”
                  Provérbios 14:23 - RA

Atribuída a Esopo e recontada por Jean de La Fontaine, a fábula A Formiga e A Cigarra esteve presente na infância da maioria de nós, e creio que na minha geração não houve quem não a tivesse conhecido. Contando a desventura da cigarra que por preguiça preferia cantar, enquanto a determinada formiga ajuntava mantimentos para o inverno, por décadas fomos ensinados que quem muito trabalha sempre tem de onde tirar seu sustento.

Já nos tempos modernos e no contexto de corrupção que vivemos em nosso país, o que se desenvolveu nas últimas décadas no imaginário coletivo, foi a idéia de que quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro, fazendo alusão às oportunidades e idéias (ou paradas) que surgem apenas durante ou em meio a um ambiente de ócio e diversão. Quem trabalha está concentrado em realizar suas tarefas e quase sempre trabalhando para terceiros. É preciso tempo para pensar em como se dar bem. Pois afinal trocamos o sustento e a prosperidade, pelo consumo e propriedade, na escala imaginária que define o conceito sucesso.

Assim a formiga se tornou uma verdadeira operária de visão curta, sem ambição na vida, sem interesse de crescer profissionalmente. Alguém que se ocupa única e exclusivamente com o cotidiano, sem visão lúdica da vida. Uma pessoa totalmente pragmática, incapaz de ser uma visionária, pois no labor extenuante se consomem seus dias.

Já a cigarra tem competências implícitas em seu comportamento. Voltada às artes deve ser sensível, capaz de interpretar comportamentos e atitudes. Deve ser estrategista, pois com olhar mais ampliado, não se ocupa no que é imediato, mas pensa mais longe. Segura, canta com a tranqüilidade de quem se garante e que domina a arte de solucionar problemas quando colocada sobre pressão. E como tem cigarras sendo escolhidas em processos seletivos e ocupando funções em diversas empresas pelo mundo, e em especial no Brasil.

O que muito se confunde, porém, é que trabalho não é apenas o que realizamos durante um período de expediente. Trabalho é o que fazemos quando aplicamos diligentemente nossas competências quando somos demandados, seja para o aqui e agora, seja para o ali e além. Agir diligentemente é aplicarmos empenho e concentração na realização de uma tarefa, atendendo à demanda com integridade e cuidado, para que o melhor resultado seja alcançado e uma necessidade seja satisfeita.

O preguiçoso procrastina. Adia sempre e se desculpa na falsa idéia de que planeja melhor antes de agir. Adia e se ocupa vagamente de tarefas outras que não são prioridades ou não lhe requerem qualquer esforço maior ou verdadeiro, embora faça desse feito, a razão de sua vida, pelo menos até que o impulso de realizar a tarefa primordial passe. A cigarra devaneia sempre.

E é se achando espertas e sagazes, que as cigarras que vivem nos diversos departamentos e empresas pelo país, passam seus dias de improdutividade efetiva. Perguntadas sempre têm prontas uma lista de muitas coisas feitas e a fazer. Mas na verdade, empurram um dia sobre o outro, pilhando-se de pendências e adiamentos sem fim. As cigarras sempre se poupam para uma tarefa que jamais realizam.

Enquanto isso as formigas continuam agindo e realizando. Não param. Sempre ocupadas, são chamadas rotuladas de pessoas de difícil relacionamento, não se dão aos chopps com os colegas. Indisponíveis para qualquer outra coisa que não a realização de suas funções; anti-sociais essas formigas.

É claro que Salomão quando escreve em Provérbios e em Eclesiastes, não tem como pano de fundo a realidade nas empresas de hoje. Ele fala de sua observação da sociedade em que quase todos trabalham num regime de subsistência, plantando e colhendo, cuidando e criando para o sustento seu e de suas numerosas famílias. Nesse contexto, os preguiçosos não tinham muito onde se esconder. Sua inatividade levava a imediata penúria e pobreza, pois nada teria para alimentar a si próprio e aos seus. As estações marcavam o tempo de semear, de arar a terra, de ceifar a colheita. As condições climáticas definiam a qualidade do pasto e obrigavam o manejo das criações para essa ou para aquela região, em busca de um alimento que mantivesse os rebanhos ávidos a fornecerem suas iguarias satisfatoriamente. Tudo isso exigia não só trabalho, mas empenho, acuidade... Diligência!

Digno é o trabalhador do seu salário (1 Timóteo 5:18). A remuneração pelo trabalho que se realiza conforme contrato entre empregado e empregador, é a recompensa que aquele recebe por atender ao que é solicitado por esse. Mas há trabalhador que receberá maior recompensa por sua diligência, esmero e produtividade. Porque a dedicação e o empenho sempre serão recompensados. Seja de que forma for, seja quando for, por quem quer que seja.

Obviamente não estamos falando aqui do trabalhador que cumpre sua jornada como quem caminha para a guilhotina. Imaginem a formiga passando e vendo a cigarra cantarolando feliz e dizendo para si mesma: - Assim é fácil, só cantando, aí sem fazer nada e eu aqui dando o maior duro, suando a camisa do patrão... Já imaginou?! Que formiga rancorosa, chata, irritante e implicante! O trabalhador diligente realiza com prazer suas funções e se realiza nisso. Tem prazer numa tarefa completada e se enche de satisfação ao encerrar mais um dia de trabalho. A formiga resmungona, não passa de uma cigarra covarde, que não teve coragem de trocar as ferramentas pela viola. Foi vencida pela imposição da vida, mas odeia o que faz. Também não faltam cigarras disfarçadas de formigas nas empresas. Não é sem motivo que Paulo adverte:


“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas.”
                  Colossenses 3:23-25 - RA

O trabalhador diligente, portanto, trabalha com alegria e dedicação, e ainda que não seja reconhecido por seus patrões, tem sua recompensa dada por Deus, que é quem pode conceder as riquezas mais adequadas, conforme a necessidade daquele que se dedica, por sua bondade e graça.

Assim, o preguiçoso não terá do que se gabar. A cigarra não terá o que cantar. Quando pensar em se desculpar, dizendo de que adianta trabalhar porque ninguém dá valor, perceberá que o reconhecimento que se busca nem sempre é o que se vê. Mas sua preguiça e devaneio invariavelmente o levarão a penúria. E o seu desleixo e descaso, jamais o sustentarão minimamente.

Que Deus nos abençoe para servir a quem quer que seja com dedicação e diligência.



2 comentários:

  1. Que bela reflexão! Gostei muito da abordagem.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns! Jansen , perfeita reflexão. E claro, isso é passado de geração a geração, sem que,a atual saiba se quer do que se trata, só repete.

    ResponderExcluir

Detesto falar sozinho. Dê sua opinião. Puxe uma cadeira, fale o que pensa e vamos conversar...

Powered By Blogger