“6
Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. 7
Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, 8
no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. 9
Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? 10
Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os
braços em repouso, 11 assim sobrevirá a tua pobreza
como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado.”
Provérbios
6:6-11 - RA
“Em
todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, levam à penúria”
Provérbios 14:23 - RA
Atribuída a Esopo e recontada por Jean
de La Fontaine, a fábula A Formiga e A
Cigarra esteve presente na infância da maioria de nós, e creio que na minha
geração não houve quem não a tivesse conhecido. Contando a desventura da
cigarra que por preguiça preferia cantar, enquanto a determinada formiga
ajuntava mantimentos para o inverno, por décadas fomos ensinados que quem muito
trabalha sempre tem de onde tirar seu sustento.
Já nos tempos modernos e no contexto
de corrupção que vivemos em nosso país, o que se desenvolveu nas últimas
décadas no imaginário coletivo, foi a idéia de que quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro, fazendo alusão às
oportunidades e idéias (ou paradas)
que surgem apenas durante ou em meio a um ambiente de ócio e diversão. Quem
trabalha está concentrado em realizar suas tarefas e quase sempre trabalhando
para terceiros. É preciso tempo para pensar em como se dar bem. Pois afinal
trocamos o sustento e a prosperidade, pelo consumo e propriedade, na escala
imaginária que define o conceito sucesso.
Assim a formiga se tornou uma
verdadeira operária de visão curta, sem ambição na vida, sem interesse de
crescer profissionalmente. Alguém que se ocupa única e exclusivamente com o
cotidiano, sem visão lúdica da vida. Uma pessoa totalmente pragmática, incapaz
de ser uma visionária, pois no labor extenuante se consomem seus dias.
Já a cigarra tem competências
implícitas em seu comportamento. Voltada às artes deve ser sensível, capaz de
interpretar comportamentos e atitudes. Deve ser estrategista, pois com olhar
mais ampliado, não se ocupa no que é imediato, mas pensa mais longe. Segura,
canta com a tranqüilidade de quem se garante e que domina a arte de solucionar
problemas quando colocada sobre pressão. E como tem cigarras sendo escolhidas
em processos seletivos e ocupando funções em diversas empresas pelo mundo, e em
especial no Brasil.
O que muito se confunde, porém, é que
trabalho não é apenas o que realizamos durante um período de expediente.
Trabalho é o que fazemos quando aplicamos diligentemente nossas competências
quando somos demandados, seja para o aqui e agora, seja para o ali e além. Agir
diligentemente é aplicarmos empenho e concentração na realização de uma tarefa,
atendendo à demanda com integridade e cuidado, para que o melhor resultado seja
alcançado e uma necessidade seja satisfeita.
O preguiçoso procrastina. Adia sempre
e se desculpa na falsa idéia de que planeja melhor antes de agir. Adia e se
ocupa vagamente de tarefas outras que não são prioridades ou não lhe requerem
qualquer esforço maior ou verdadeiro, embora faça desse feito, a razão de sua
vida, pelo menos até que o impulso de realizar a tarefa primordial passe. A
cigarra devaneia sempre.
E é se achando espertas e sagazes, que
as cigarras que vivem nos diversos departamentos e empresas pelo país, passam
seus dias de improdutividade efetiva. Perguntadas sempre têm prontas uma lista
de muitas coisas feitas e a fazer. Mas na verdade, empurram um dia sobre o
outro, pilhando-se de pendências e adiamentos sem fim. As cigarras sempre se
poupam para uma tarefa que jamais realizam.
Enquanto isso as formigas continuam
agindo e realizando. Não param. Sempre ocupadas, são chamadas rotuladas de
pessoas de difícil relacionamento, não se dão aos chopps com os colegas. Indisponíveis para qualquer outra coisa que
não a realização de suas funções; anti-sociais essas formigas.
É claro que Salomão quando escreve em
Provérbios e em Eclesiastes, não tem como pano de fundo a realidade nas
empresas de hoje. Ele fala de sua observação da sociedade em que quase todos
trabalham num regime de subsistência, plantando e colhendo, cuidando e criando
para o sustento seu e de suas numerosas famílias. Nesse contexto, os
preguiçosos não tinham muito onde se esconder. Sua inatividade levava a
imediata penúria e pobreza, pois nada teria para alimentar a si próprio e aos
seus. As estações marcavam o tempo de semear, de arar a terra, de ceifar a
colheita. As condições climáticas definiam a qualidade do pasto e obrigavam o
manejo das criações para essa ou para aquela região, em busca de um alimento
que mantivesse os rebanhos ávidos a fornecerem suas iguarias satisfatoriamente.
Tudo isso exigia não só trabalho, mas empenho, acuidade... Diligência!
Digno é o trabalhador do seu salário (1 Timóteo 5:18).
A remuneração pelo trabalho que se realiza conforme contrato entre empregado e
empregador, é a recompensa que aquele recebe por atender ao que é solicitado
por esse. Mas há trabalhador que receberá maior recompensa por sua diligência,
esmero e produtividade. Porque a dedicação e o empenho sempre serão
recompensados. Seja de que forma for, seja quando for, por quem quer que seja.
Obviamente não estamos falando aqui do
trabalhador que cumpre sua jornada como quem caminha para a guilhotina.
Imaginem a formiga passando e vendo a cigarra cantarolando feliz e dizendo para
si mesma: - Assim é fácil, só cantando, aí sem fazer nada e eu aqui dando o
maior duro, suando a camisa do patrão... Já imaginou?! Que formiga rancorosa,
chata, irritante e implicante! O trabalhador diligente realiza com prazer suas
funções e se realiza nisso. Tem prazer numa tarefa completada e se enche de
satisfação ao encerrar mais um dia de trabalho. A formiga resmungona, não passa
de uma cigarra covarde, que não teve coragem de trocar as ferramentas pela
viola. Foi vencida pela imposição da vida, mas odeia o que faz. Também não faltam
cigarras disfarçadas de formigas nas empresas. Não é sem motivo que Paulo
adverte:
“Tudo
quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para
homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo,
o Senhor, é que estais servindo; pois aquele que faz injustiça receberá em
troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas.”
Colossenses 3:23-25 - RA
O trabalhador diligente, portanto,
trabalha com alegria e dedicação, e ainda que não seja reconhecido por seus
patrões, tem sua recompensa dada por Deus, que é quem pode conceder as riquezas
mais adequadas, conforme a necessidade daquele que se dedica, por sua bondade e
graça.
Assim, o preguiçoso não terá do que se
gabar. A cigarra não terá o que cantar. Quando pensar em se desculpar, dizendo de que adianta trabalhar porque ninguém dá
valor, perceberá que o reconhecimento que se busca nem sempre é o que se
vê. Mas sua preguiça e devaneio invariavelmente o levarão a penúria. E o seu
desleixo e descaso, jamais o sustentarão minimamente.
Que Deus nos abençoe para servir a
quem quer que seja com dedicação e diligência.
Que bela reflexão! Gostei muito da abordagem.
ResponderExcluirParabéns! Jansen , perfeita reflexão. E claro, isso é passado de geração a geração, sem que,a atual saiba se quer do que se trata, só repete.
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