- O
que? Biologia?
- Não,
não. Teologia!
- Ah!...
Legal. E a pessoa responde normalmente sem graça. E aí pensa: Teologia? Será que ele quer ser padre? Mas
ele não é evangélico? Xii... Se eu esticar a conversa, já já ele vai querer
pregar para mim... Isso tudo enquanto olha através de mim, buscando na imaginação uma boa desculpa para fugir
para bem longe. Algumas outras pessoas um pouco mais interessadas, sinceramente
perguntam: - Mas por que teologia? E
aí a conversa fica ainda mais louca.
Intelectualmente vaidoso, sempre procurei
elaborar uma resposta que fosse ao mesmo tempo consistente, pertinente,
admirável e racional. Um malabarismo
conceitual que me obrigava a rechear a resposta com lógicas e motivações de
senso comum, que me fizessem parecer um jovem equilibrado, maduro. Um religioso
longe de ser apontado como fanático, superficial, ou tendencioso. Perdi a conta
de quantas vezes me arrependi das coisas que disse ao me justificar. Tudo na
intenção camuflada de ser reconhecido positivamente, bem aceito, e não ser
flagrado num ativismo secundário e sem importância. Vaidade de vaidade. Tudo é vaidade.
No fundo, por mais que eu quisesse
passar a idéia de ser alguém livre das convenções, fui iludido e me fartei do
mesmo manjar. Minha escolha pela teologia precisava ter contornos de utilidade
prática e importância social. Eu precisava sentir-me admirado e intelectualmente
respeitado. O impulso que orientou minha opção estava certo. Mas a convicção
que sustenta o caminho era fraca. E diante das demandas da vida e obrigações
que se impuseram, sucumbi. Como na parábola do semeador, em que as sementes
caem entre os espinhos.
Muitas noites se seguiram em elucubrações
sem fim, com o peito ardendo. Queria entender e identificar para mim mesmo o
sentido prático em estudar teologia. Até o dia em que consegui perceber o que
sempre esteve diante dos meus olhos; na verdade dentro de mim. Eu sinto prazer em fazer teologia. Isso mesmo; prazer.
Nosso modelo ocidental despreza o prazer como motivação aceitável para toda
e qualquer atividade que se possa julgar legítima, e razoavelmente relevante. Prazer está relacionado à satisfação
pessoal e íntima, remetendo ao lascivo e ao egoísta. Logo, aquilo que é prazeroso, seguindo-se essa ótica, não
pode ser considerado de interesse comum, ou nobre em seu mote original. Apenas
o fruto do sacrifício, ou daquilo que é realizado por obrigação, ganha a
chancela do louvável. Por essa razão, tantas pessoas narram seus feitos,
recheando a história com dificuldades aumentadas, e sacrifícios admiráveis. – Foi difícil, sabe? Mas apesar de tudo, cumpri
com minhas obrigações. Era a minha missão! E o orgulho de si mesmo escorrendo
pelos cantos da boca. Uma compulsão por sentir-se cumprindo um sacerdócio.
Talvez eu até esteja frustrando alguns,
que gostariam de ler uma fantástica história de chamado, que justificasse minha
escolha. Um relato que homologasse uma vocação inexorável. Se eu puxar pela
memória, talvez possa até identificar uma ou outra circunstância que seja
interpretada como um chamado. Mas desculpem os acusadores de plantão. Se não
sentisse tanto prazer, talvez não me gastasse tanto, nem me dedicasse tanto. Mas
é difícil analisar qualquer circunstância baseado em escolhas que não tomamos.
Não há como avaliar como teria sido a vida que não escolhi ter.
Mas afinal, não é o próprio prazer em realizar, uma vocação
intrínseca? Não seria a atração por Deus um inquestionável chamado?
"Pois
misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que
holocaustos."
Oséias
6:6 - RA
É claro que, seguindo os mais
aceitáveis e conhecidos padrões apologéticos, seria possível destacar algumas
relevantes razões para o estudo da teologia. Razões que passeiam tanto pela
defesa da fé, quanto pelo “Ide” de Jesus. Os grandes mestres da Teologia
Sistemática foram prodigiosos em relacionar motivações diversas e muito bem
sustentadas. Mas eu prefiro a afirmação relacional de Anselmo de Cantuária; Não estudamos para crer; estudamos porque
cremos. É a minha fé que me impulsiona a estudar. É meu amor por Deus que
me faz querer conhecê-lo. Estudar teologia está para o cristão, assim como a
poesia para os amantes. É gastar-se
em pensar, e falar sobre as manifestações do seu amor.
Talvez
eu até fosse mais considerado, lido e ouvido, se dissesse que estudo teologia por
dever. Mas por vício de conduta, prefiro dizer com toda a convicção, que o faço
tão somente pelo prazer de pensar
Deus todo o tempo; minha motivação única e mais que suficiente. Afinal, para onde iria eu se tu tens as palavras de
vida eterna?
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