“O
primeiro em pedir desculpas é o mais valente. O primeiro em perdoar é o mais
forte. O primeiro em esquecer é o mais feliz.”
Papa Francisco
Estamos atravessando dias difíceis de grande perplexidade.
O conflito em Gaza entre palestinos e israelenses, e o conflito separatista na
Ucrânia, têm produzido horror e comoção em todo o mundo civilizado. Atônitos,
acompanhamos com muita apreensão os ataques de ambas as partes, imaginando as
possíveis conseqüências de um eventual agravamento desses conflitos.
É claro que em ambos os lados de uma guerra há quem
defenda as próprias razões, culpando compulsoriamente o lado adversário pelo
estopim do conflito. Defendem convictamente suas lógicas, e acreditam ou se
forçam a acreditar que o direito ou a verdade que os motivaram ao confronto, os
garantirá vitória exemplar e definitiva, que virá como a demonstração cabal de
que estavam certos... Sempre estivemos certos.
É
bem verdade que conflitos armados como esses, são a manifestação extrema de
interesses que se antagonizaram em algum momento. São também a conseqüência
desastrosa do fracasso de toda e qualquer tentativa diplomática em evitar a
guerra. Atitudes conciliatórias e apoio a acordos de paz não faltaram. Assistimos
a diversas declarações de chefes de estados de diversas nações influentes, na tentativa
de fazerem recuar em suas iminentes rotas de colisão. Infelizmente nada
conseguiu evitar que vidas estejam sendo ceifadas por tiros, bombas e mísseis.
Para
piorar a barbárie, civis vêem sendo os principais atingidos direta ou indiretamente
nesses conflitos. Mais de mil e duzentos mortos em Gaza somando-se as baixas de
ambos os lados. Um avião transportando cientistas foi abatido, quando
sobrevoava a zona de guerra entre o exército ucraniano e os rebeldes
separatistas. Mais de 200 pessoas estavam naquela aeronave. E os danos á
humanidade certamente não pararão por aí.
Ora,
guardadas as devidas proporções, não é isso mesmo que vivenciamos em nosso
dia-a-dia, em cenários reduzidos e com atores muito mais próximos de nós? A
intolerância vem provocando constantes impasses e inevitáveis conflitos, em
relações as mais variadas. Seja entre casais, vizinhos, familiares,
torcedores... A imposição vem se tornando demonstração aceitável de
superioridade, nos mais diversos segmentos e níveis da sociedade. Ninguém quer
ceder. Ninguém aceita parecer mais fraco por reconhecer seus erros ou por
aquiescer com a falha alheia.
Se
você pede desculpas é um fraco. Se você perdoa, é
um bobão... Um
banana! Caso se atreva a esquecer uma afronta qualquer, um prejuízo
causado por terceiros, você é apontado na rua como um otário. O enfrentamento é a atitude enaltecida e esperada pela
maioria. A afronta a reação legítima. O acerto de contas é o caminho para se
sentir com a alma lavada. Não vemos isso todos os dias? Não reagimos nós mesmos
assim, consciente ou instintivamente? Nada mais animal e equivocadamente aceito
do que o revide. Ser inflexível não tem sido entendido como firmeza de caráter,
personalidade forte ou ainda determinação? Nada mais valorizado nas grandes
corporações, do que a competitividade e o espírito combativo.
Essa
disputa diuturna promove rixas, intrigas, mentiras, traições, ofensas...
Agredidos e agressores se enfrentam e se opõem com a dureza de quem não se
permite recuar um só centímetro de suas posições. Fazem acaloradas defesas de
suas pretensas razões, e não se oferecem, nem que por hipótese, o benefício da
dúvida, quanto a legitimidade de suas motivações. Ninguém quer ceder.
Por
intolerância, imposições mútuas e mágoas, torcedores se agridem na entrada dos
estádios, cônjuges se matam e famílias inteiras se dissolvem por não conseguirem
superar feridas que teimam em não cicatrizar. Ninguém quer dar um passo atrás.
Não há quem cruze esse rio de traumas ou pule o muro do orgulho ferido. Há até quem
se explique: Eu até perdôo, mas esquecer não esqueço não... É "ruin" hein!
É
verdade. É ruim. Muito ruim mesmo. Porque a reconciliação é o caminho mais
direto e talvez o único para a paz. Negligenciá-la é se lançar numa aventura
que ninguém pode prever o final. Por outro lado, conciliar interesses,
condescender com a fraqueza alheia, e sublimar a vingança, pode produzir
maravilhosos sentimentos de completude e realização. Desculpas podem desviar a
ira do ofendido. O perdão libertará o coração indulgente. E apagar voluntariamente
da memória a ofensa sofrida, renovará o espírito e recuperará a alegria de
viver.
Vivemos
dizendo que o mundo precisa de paz. Mas antes, para isso, precisamos promover a
paz no cantinho onde vivemos. Em casa, na vizinhança, na empresa em que
trabalhamos. Na rua, no trânsito... Quem sabe se somados, pequenos e legítimos
ambientes de paz, nos levem à tão sonhada paz mundial. Vamos tentar?
Pedi perdão sendo o magoado... é ser muito valente... é ter um coração de Deus... porque o Amor de deus nos constrange e nos encoraja.
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