“34 Então, convocando a multidão e
juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si
mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. 35
Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa
de mim e do evangelho salvá-la-á. 36
Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? 37 Que daria um homem em troca de
sua alma? 38
Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e
das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier
na glória de seu Pai com os santos anjos.”
Marcos
8:34-38–RA
Quase sempre que lemos ou ouvimos esse texto,
principalmente o verso trinta e quatro, somos remetidos às dificuldades e
sacrifícios que passaremos ou teremos de fazer para seguir o caminho de Jesus.
A maioria das pessoas, inclusive, tende a se lamentar de suas “cruzes”, aproveitando
para desfilar um corolário de queixas e murmurações, quase que nos pedindo para
carregar com elas ou por elas, o que chamam de “cruz”, pois a cruz é popularmente entendida como
provações que a vida nos reserva. O que quase ninguém percebe, ainda que não
seja nenhum segredo, é que a “cruz” a qual Jesus se refere, não é o assunto
principal do texto, mas sim o que vem depois dela.
A crucificação era uma das formas de execução
utilizadas na época. O uso dessa prática estava destinado prioritariamente a
punir escravos rebeldes, criminosos violentos ou subversivos políticos.
Usualmente o condenado à cruz sofria tortura antes de sua execução, para
reduzir sua resistência. Mas uma prática era ainda mais comum; a de fazer com
que o condenado leva-se a própria cruz até o lugar de sua execução, como um
anúncio à população do que iria se dar com ele em breve. Estão vendo? Eu irei morrer! Uma execução que se pretendia exemplar
e inibidora de qualquer atitude criminosa.
Após decidida e declarada, a execução na cruz, não
poderia mais ser revogada ou adiada. Quem a carregasse anunciava que sua morte
estava próxima. E igualmente quem testemunhava a passagem de alguém carregando
uma cruz, sabia que estava diante de uma pessoa morta, ainda que vivesse seus
últimos instantes. Para aquele condenado não havia escapatória.
Quando Jesus diz “tome a sua cruz” ele está
anunciando a morte de quem o pretender seguir. Ele não promete recompensa,
deleites ou vantagens. Ele anuncia que a decisão em segui-lo levará a morte.
Por isso “tome a sua cruz e siga-me”, pois
você irá morrer tanto quanto eu. E há uma absoluta e perturbadora
contundência nessa afirmação. Não há escapatória. Não há sequer a possibilidade
de um jeitinho brasileiro; um meio termo. Pois quem quiser ganhar a sua vida irá perdê-la, diz Jesus em seqüência
no verso trinta e cinco. Ou morre para a vida, ou vive para a morte.
Num mundo em que políticos prometem o que não cumprem.
Em que pais garantem o que não sabem se poderão conseguir, e quase todos falam
sempre aquilo que não pensam ou não sentem, só para não desagradarem seus
circunstantes, dar a morte como destino certo por conta de uma decisão, parece um
contra-senso de quem espera arregimentar seguidores. Não parece a isca ideal
para pescar o tipo de peixe que se imagina comer. Acontece que Jesus não queria
e não quer qualquer peixe.
“57 Indo eles caminho fora, alguém
lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. 58 Mas Jesus lhe respondeu: As
raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem
onde reclinar a cabeça. 59
A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro
sepultar meu pai. 60
Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu,
porém, vai e prega o reino de Deus. 61
Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de
casa. 62 Mas Jesus lhe replicou: Ninguém
que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.”
Lucas
9:57-62–RA
Se há uma coisa da qual o Reino de Deus não
precisa, é de quem imagina poder manter um
pé lá e outro cá. Garantir-se dos dois lados. Obter o maior número de
vantagens possível. Viver sem ter de fazer escolhas. Surfar na onda dos
acontecimentos e aproveitar o que tiver de melhor, nesse ou naquele outro lado.
O Reino de Deus não precisa de oportunistas ou claudicantes, mas de abnegados convictos
e determinados. Escolher é declarar preferências, é abandonar o que não se
escolheu. Sem medo de arrependimento, ou remorso pelo abandono do que ficou
para trás. O Reino de Deus requer urgência e dedicação.
Não há qualquer possibilidade de barganha. Mas há
quem considere possível, dependendo do que fizer ou do que falar, poder
manter-se no muro até o último instante. Se é que acredita em um último
instante. Mas Jesus adverte não haver nada, em absoluto, que se possa dar em
troca da própria alma. Nem dinheiro, nem bens, nem conversa. Nada. Ou morre
agora, ou não viverá mais.
Mas
morrendo eu não perco tudo de qualquer forma, e muito mais cedo que perderia se
morresse mais tarde? Perguntaria alguém numa argumentação
emprenhada de duplo sentido. Ora, quando Jesus fala de morrer, fala de escolha,
de decisão sem volta. De abandono total de tudo o que ficar para trás. Das
vantagens escusas, dos bens ilícitos, das paixões lascivas, da vida de onde
Deus é excluído, para se dar lugar à possibilidade de se viver à própria vontade e
dissolução. Até porque, a luz impede a escuridão.
Não podemos ter vergonha da nossa escolha. Não
podemos ter vergonha da morte a que nos submetemos, nem da ressurreição que esperamos.
Uma vez mortos testemunhamos a vida que renasce em nós pelo Espírito do Senhor.
Porque morremos para nós mesmos e vivemos para Deus. Jesus prometeu uma vida
nova, próxima de Deus e cheia de possibilidades que agradam ao novo ser em que
nos transformamos. A única forma de não termos vergonha disso, é tendo
convicção da opção que fizemos, é não olhando para trás, pensando no que
deixamos.
“20 Portanto, se, depois de terem
escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador
Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último
estado pior que o primeiro. 21
Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que,
após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes
fora dado. 22
Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu
próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.”
2
Pedro 2:20-22–RA
“12 Não que eu o tenha já recebido
ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que
também fui conquistado por Cristo Jesus. 13
Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço:
esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de
mim estão, 14
prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.”
Filipenses
3:12-14–RA
Que Jesus nos sustente em grande confiança e
esperança n’Ele, para que nossa caminhada tenha passadas ainda mais convictas e
determinadas, à carreira que nos está proposta, e à nossa soberana vocação.
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