“3 Por que vês tu o argueiro no olho
de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
4
Ou como dirás a teu irmão:
Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?
5
Hipócrita! Tira primeiro
a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do
olho de teu irmão..”
Mateus
7:3-5 – RA (ver também Lucas 6:41-42)
Uma
das atitudes mais comuns e corriqueiras nos diversos grupos sociais que
participamos em nosso dia a dia, é a transferência para o outro, daquilo de
errado que vemos em nós mesmos. Apontamos na direção do outro, acusamos o
outro, e divulgamos o que de errado encontramos presumivelmente no outro, sem,
contudo, tratar do que está errado em nós mesmos.
Jesus
chama isso de hipocrisia e sem titubear. Incluído no chamado Sermão do Monte,
essa sentença contra o fingimento é um alerta para quem, por mais boa vontade
que possa ter ou pretenda demonstrar, imagina-se em condições de ajudar alguém
com problemas, quando na verdade está atolado em dificuldades ainda maiores.
Superlativamente maiores.
Na
versão da Bíblia King James, a palavra argueiro
é substituída por cisco, e a palavra trave por viga, ambas mais comuns em nosso dia a dia. Com elas no texto, é
mais fácil perceber o quão distante está o problema que aponto no outro do que aquele que está em mim. Ninguém tem dúvida do quanto uma viga é maior e mais pesada do que
um cisco. Mas para encobrir minha viga,
para disfarçar minha trave, eu aponto para o cisco no olho do meu irmão,
querendo dizer-lhe que com aquele cisco nos olhos não será possível enxergar
bem. E me disponho a ajudá-lo, na mais hipócrita atitude de quem finge estar em
condições disso. Hipócrita!
O
mais interessante nisso tudo, é que para Jesus essa não é uma atitude inconsciente,
inocente, ou mesmo ingênua. Não. Por isso ele chama de hipocrisia, termo comum na Grécia,
conhecido como a arte de fingir ou interpretar um personagem, já utilizado
desde a antiguidade pelos artistas em seus teatros gregos. Não há inocência na
hipocrisia. Antes é uma atitude deliberada por nossa estratégia de camuflar e
esconder dos outros, aquilo que precisa ser trabalhado em nós. E sendo
hipocrisia, descartada está a possibilidade de uma atitude inconsciente de quem
se engana a si mesmo, pois ao agir para esconder a viga que se encontra nos
próprios olhos, demonstrasse o quanto se sabe exatamente que ela está ali,
impedindo que se enxergue corretamente, muito mais do que o cisco que atrapalha
a visão de meu irmão.
Tira primeiro a trave do teu olho.
Jesus não diz que não poderemos ajudar o outro com seu cisco. Mas
condiciona-nos a primeiro tirar a trave do nosso. Não posso ajudar no exercício
do outro, se eu primeiro não faço o meu dever de casa. Como poderei ajudar
alguém com a lição, se não realizei primeiro a minha? Há muita gente tentando
retirar o cisco dos olhos alheios, com vigas imensas encravadas nos próprios olhos, afetando a percepção e o julgamento de tudo à sua volta.
No
espelho diante do qual nos exercitamos no confronto a nós mesmos, precisamos examinar os próprios olhos,
perceber nossos ângulos, acertar a trave e fazer o gol. Precisamos retirar as vigas
da nossa frente, para só então agirmos na direção do outro, com a compaixão de
quem reconhece a dificuldade de enxergar, quando algo está diante dos próprios
olhos, impedindo de ver o caminho a seguir.
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