“antes,
santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados
para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,”
1 Pedro 3:15 – RA
“Não estudamos
para crer; estudamos porque cremos”
Anselmo de Cantuária
Um
dos mais espetaculares privilégios do cristianismo é a liberdade que temos de
acessar, meditar e estudar a Bíblia, crida por nós como a Palavra de Deus. Negada
por séculos aos cristãos comuns, sendo restritamente liberada apenas a
párocos, professores ou teólogos, a leitura pessoal e individual da Bíblia foi
popularizada desde o advento da Reforma Protestante, que entendeu como
responsabilidade estendida a cada cristão, aprender de Deus e crescer no seu
conhecimento, a partir do exercício da leitura devocional e do estudo piedoso
do texto bíblico.
Pelo
hábito de consultar a Bíblia, fosse em culto, fosse na leitura pessoal, por
anos carregamos esse livro de capa preta embaixo do braço, motivo pelo qual éramos
apontados e chamados pejorativamente de “Bíblias”. Uns envergonhavam-se, outros
se orgulhavam. Mas na prática tínhamos uma identidade que trazia ao homem natural,
por mais que discordasse de nossos modelos e hábitos, a idéia de que o costume
de estudar a Bíblia era uma característica nossa. E como era comum sermos
abordados, até por chacota, para que elucidássemos, pelo conhecimento bíblico
presumido, uma questão religiosa qualquer, ou um princípio ético de difícil
compreensão. - Pergunta ali pro crente. Ele
deve saber.
O
avanço tecnológico nos presenteou com facilidades maravilhosas. E hoje, em vez
de carregarmos a Bíblia para todos os lugares, podemos carregar dentro de um só
equipamento, não só uma bíblia inteira, mas quantas Bíblias quisermos. De
variadas versões, edições comentadas, edições em linguagem coloquial, sistema
de busca... As gincanas que fazíamos na adolescência para ver quem abria a
Bíblia mais rapidamente, perderam completamente o sentido. Tudo está ao alcance
das mãos, a um simples toque dos dedos. Ficou tudo muito mais fácil.
Acontece, porém, que paradoxalmente e não obstante termos à mão todos os recursos para lermos,
estudarmos e nos deleitarmos na leitura bíblica, trocamos os textos e os contextos
da narrativa bíblica, por consumíveis palavras de ordem, frases feitas,
conceitos enxertados, que nenhum contato têm com a piedade, senão o de criar
uma aparência superficial de religiosidade, mantendo a maioria de nossa gente
numa devoção delirante e num conhecimento raso da vontade e do conhecimento de
Deus.
“6 Estou muito admirado com vocês,
pois estão abandonando tão depressa aquele que os chamou por meio da graça de
Cristo e estão aceitando outro evangelho. 7
Na verdade não existe outro evangelho, porém eu falo assim porque há algumas
pessoas que estão perturbando vocês, querendo mudar o evangelho de Cristo. 8 Mas, se alguém, mesmo que
sejamos nós ou um anjo do céu, anunciar a vocês um evangelho diferente daquele
que temos anunciado, que seja amaldiçoado! 9
Pois já dissemos antes e repetimos: se alguém anunciar um evangelho diferente
daquele que vocês aceitaram, que essa pessoa seja amaldiçoada! 10 Por acaso eu procuro a
aprovação das pessoas? Não! O que eu quero é a aprovação de Deus. Será que
agora estou querendo agradar as pessoas? Se estivesse, eu não seria servo de
Cristo.”
Gálatas 1:6-9 - NTLH
O
que buscamos com isso? Onde queremos chegar? O que temos para apresentar ao
mundo sobre a esperança que há em nós? E o que é que esperamos? No que é que
cremos? O mundo continua sedento por uma mensagem penetrante e transformadora. Que
lhes confronte a realidade de uma vida sem a comunhão com Deus, sem a salvação
em Cristo Jesus, e sem as consolações do Espírito Santo. A cruz e a ressurreição
sumiram de nossa pregação, que se voltou a aproximar a mensagem de um evangelho
hedonista, aos hábitos e desejos do homem natural, à imagem e semelhança de
suas impiedades, capazes de envolvê-los e cativá-los.
E
o que foi que nos trouxe a esse estado de superficialidade? O abandono da
leitura da Bíblia e do aprofundamento no entendimento de sua doutrina. Trocamos
o efeito do crescimento no
conhecimento de Deus, pelas frases de
efeito que atrofiam membros, mente, e que alimentam apenas o coração enganoso.
“1 Conjuro-te, perante Deus e
Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu
reino: 2 prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e
doutrina. 3
Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo
coceira nos ouvidos; 4
e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. 5 Tu, porém, sê sóbrio em todas
as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre
cabalmente o teu ministério..”
2 Timóteo 4:1-5 - RA
O
que tememos ao pregar o evangelho da cruz e da ressurreição? Rejeição? Ora, não
é da cruz e da ressurreição que somos testemunhas? Não pode nos assustar a
rejeição, assim como não nos deve causar medo a discriminação, o isolamento, a
perseguição e a dor por amor a Cristo e por nossa submissão a Deus. Pois fomos
chamados para anunciar uma vida plena e abundante na comunhão com Deus, e não
uma vida em conta gotas, que se alimenta de pequenas doses de falácias e
afirmações fugazes, que não podem levar ninguém à reflexão e ao confronto com
sua realidade mais íntima.
Que
o Senhor que se empenhou em nos oferecer de si mesmo em sua Palavra e em
Cristo, nos inspire a um profundo e inesgotável desejo pelo retorno à Bíblia,
para que a carreira que nos está proposta seja enriquecida pelo aprofundamento
no conhecimento do Santo.
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