terça-feira, 28 de outubro de 2014

Aos perdedores alguns outros recados das urnas





“Essa mania de querer sempre reverter resultados no tapetão é, próprio de quem no fundo sabe que faltou empenho durante a disputa. Um verdadeiro guerreiro tem seu orgulho. E sabe que reconhecer a derrota é confirmar sua determinação em vencer.”
                      JLjr

Se alguém pensou que as urnas deixaram recados apenas aos vencedores, enganou-se completamente. Também aos perdedores, e me incluo nesse grupo, há importantes recados que precisam ser ouvidos e admitidos, para o bem da nação, mais do que para consolo pela derrota.

Sim, perdemos. E é preciso parar com essa mania de tentar encontrar culpas, sabotagens e conspirações, que justifiquem a derrota no pleito, tentando tornar ilegítimo, ainda que moralmente, a vitória do opositor. Pouco mais da metade dos eleitores brasileiros optaram pelo PT, por seus programas sociais, pelo discurso do cuidado com os pobres, pela ideologia do “eles contra nós”, e por posturas que incitavam que nós não ligamos para eles. E se é verdade ou mentira que não ligamos, pouco importa. Essa é a sensação que causamos neles. Porque o discurso só encontrou eco, porque de alguma forma essa sensação de abandono e descuidado lhes é latente no inconsciente.

E por que será que essa sensação acontece? O próprio mapeamento dos votos esclarece, uma vez que dividiu o pais claramente, separando as regiões de maior concentração de investimentos e produção, das menos favorecidas pelos investimentos em infra-estrutura e cuidados com o bem estar social. E não foi sempre historicamente assim mesmo? A reação raivosa de algumas pessoas pelas redes sociais, que não se furtaram de declararem suas antipatias com “essa raça de gente pobre e burra”, mais do que ferir princípios éticos, flagra o que de separatismo latente existe no comportamento social. Ora, obviamente essa visão influencia decisões econômicas, que historicamente desfavoreceram essas regiões, de cuja população se viu acolhida e defendida pelo discurso do PT. Eles estão errados em se defender? Avalie pela ótica de quem não tem nada.

Portanto, de nada adianta reclamar que o Bolsa Família comprou voto. O problema é bem mais fundo do que nossa reação imediata pode alcançar. Começa desde o cuidado que jamais tivemos e ainda não temos com essa gente. É claro que existem abusos, gente que não precisa, espertos de plantão que se favorecem da perda de controle... Mas creiam, eles não totalizariam cinqüenta milhões de pessoas. Há um contingente importante e grande, de pessoas que dependem sim, e totalmente, dessa parca mas sagrada ajuda que o governo federal concede. Tanto que a idéia do programa nasceu do governo neo-liberal do PSDB, diante da alarmante condição de vida a que está submetida essa enorme parcela da população brasileira.

Uma prima minha postou uma frase que adorei. Vai começar a onda de auto-deportação! Achei extremamente adequada, porque é a esse tipo de bravata que tenho assistido desde domingo à noite: "Só me resta ir embora desse pais de...". Bobagens. Essa reação, que entendo obviamente ser em muitos casos apenas um desabafo, na prática externa que a grande maioria de nós, que perdemos, lutávamos, não pelo bem do país, mas apenas pelo estabelecimento das condições que julgamos favoráveis a nós mesmos, independente do que seja melhor para o país. De certa forma, declara por vias travessas, que para um contingente representativo, o voto em Aécio não passava de um cuidado intimista com o próprio umbigo.

Divididos ou não em nossas intenções necessidades e predileções políticas, somos uma só nação. Estamos entre as dez maiores economias do mundo, temos um território de extensão continental, que não poderia se furtar de apresentar importante diversidade de costumes e características regionais. Ou não é essa nossa diversidade, uma das mais ricas características que apresentamos como nação, que nos faz adaptáveis e habilidosos em condições contingenciais? Por que agora consideraremos essas diferenças como razão de vergonha e revolta? Essas são características nacionais que precisam ser utilizadas em nosso favor, no crescimento da qualidade de vida de toda a população brasileira.

Aos legítimos perdedores, àqueles que sentiram doer profundamente a derrota, não pelo candidato em si, mas pela manutenção do PT e tudo aquilo que se imagina significar isso na política econômica e seus desdobramentos, passando pela corrupção e tudo o mais, é importante alertar: Agora mesmo é que a participação tanto no patrulhamento ostensivo do uso da coisa pública, quanto nas propostas de solução para as dificuldades e problemas nacionais, se fará ainda mais importante e necessária. De quebra, tal comportamento auxiliará as gerações futuras, criando o costume de participar das questões nacionais, ampliando qualitativamente o nível de politização de nossa gente.

Resta-nos agora, por convicção e dever cívico, arregaçarmos as mangas e trabalharmos, para que as pessimistas e desastrosas previsões conjunturais  não se concretizem. Precisamos influenciar positivamente e torcer. Sim, torcer. Para que nada do que tememos venha acontecer. Muito pelo contrário. Devemos apoiar o governo Dilma no que for viável, interessante e necessário para o país, bem como apresentarmos possibilidades e alternativas exeqüíveis de maneira responsável, contribuindo para a
recuperação do país, ainda que sem pasta na administração pública ou cargo político, mantendo inabaláveis os pilares da democracia, alcançada por todos nós com tantos esforços, suor e sangue.

Por fim, não é torcendo pelo touro, que demonstro ser melhor toureiro do que aquele que está na arena.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Aos vencedores alguns recados das urnas






“Sempre ouvi dizer que mais difícil que saber perder é saber ganhar. Talvez porque se tente sempre embaçar o brilho da vitória alheia, enaltecendo-se o brio de quem perdeu, seja qual for a disputa. Temos sempre o impulso de minimizar as perdas, reduzindo a importância das vitórias. Mas reconheço que há perdas que no final tornam-se livramentos.”
                   JLjr

Encerrado o pleito eleitoral, há diversas lições que precisarão ser destacadas dessa disputa, que foi a mais acirrada na história recente do país. Lições que precisarão ser absorvidas por ambos os lados opositores, e por toda a população, quer se sintam vencedores, quer perdedores. Mas vamos primeiro aos vencedores.

Não houve ampla maioria na decisão do povo! Não que isso retire a legitimidade do resultado. De forma alguma. Mas por outro lado o resultado não é uma credencial ou referendo para que os fatos e circunstâncias que incomodaram pouco menos da metade dos eleitores, seja mantido como está. Muito pelo contrário. É necessário entendermos que o voto a favor da presidente Dilma, apesar de todas as denúncias e flagrantes envolvimentos de membros do governo e de agentes públicos em corrupção de todas as montas e em diversos setores do Estado, é um voto de confiança de que não só ela não compactua com tais “maus feitos”, como irá buscar investigar, apurar e punir os responsáveis pelo mau uso do dinheiro público, e do mandado que receberam do povo brasileiro.

Que ninguém se engane. Dinheiro não aceita desaforo. O que significa que, ainda que pouco mais da metade dos vôos válidos tenha concordado em manter o governo que aí está, esse mesmo governo terá que rever seus caminhos e diretrizes econômicas num brevíssimo espaço de tempo, sob o prejuízo de amargar não ter condição de manter os programas sociais que tanto lhe renderam votos e confiança por conta do eleitorado. O país está deixando de crescer. Sequer chegaremos esse ano ao chamado crescimento vegetativo da economia, que seria o crescimento natural pelo aumento da população economicamente ativa, que ano a ano acessa o cenário nacional. Na prática isso significará desemprego que, aliado à inflação, se transformará no pior cenário sócio-econômico que uma nação poderia querer para si mesma.

Estamos na era da comunicação digital. E a popularização dos acessos e meios de comunicação, amplia o contingente de pessoas capazes de guardar toda sorte de empenhos e promessas de campanha, feitas pela candidata vencedora. E o que hoje foi motivo de voto de confiança, amanhã poderá se tornar uma decepção e uma frustração, que nenhum plano de marketing conseguirá reverter ou apagar. Investigações das denúncias de corrupção, reforma política, reforma tributária, PACs e outros programas sociais e de crescimento, precisarão efetivamente ganhar a pauta desse governo. Do contrário, todo seu discurso retornará com a força de um bumerangue, degolando suas pretensões de sucessão presidencial.

Por último, para não gastarmos todos os assuntos de uma só vez, ao contrário do que disse a presidente reeleita em seu discurso da vitória, ficamos sim com um país dividido e claramente dividido. A porção produtiva e geradora do maior volume de riquezas da federação disse “não” a esse governo. Na prática, isso produzirá uma queda de braço nas garantias de investimento e de segurança das condições favoráveis a crédito e produção, diminuindo naturalmente a criação de empregos que, ao contrário do que bravata o governo, não surgem por decreto, mas dependem de uma economia aquecida e de um desenvolvimento sustentável.

Vamos torcer para que esse imenso recado encaminhado pelas urnas, recado de uma outra metade perdedora, não seja desprezado pela presidente reeleita. Antes, que diante desse clamor por mudanças, o governo nos surpreenda com medidas efetivas na direção do bem estar comum a todos nós. Afinal, vencidos ou vencedores nas urnas, somos todos brasileiros.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Eleições 2014 - Um legado a ser esquecido?





“É preciso não confundir oba-oba com mudança verdadeira de postura da população com relação ao processo político e o seu papel e importância no dia-a-dia de nossas famílias. A incoerência das reivindicações nas manifestações do ano passado, com o resultado das urnas, é flagrante na maioria do país. Não é possível que depois de tudo aquilo que vivemos, voltaremos a ser apenas uma massa de modelar nas mãos de manipuladores escusos, ladrões das esperanças mais legítimas de uma nação.”
                      JLjr


Chegamos enfim às vésperas do segundo turno das eleições 2014. Será o fim de um dos pleitos mais disputados desde a redemocratização do país. Mas será também o fim de uma disputa banhada de mentiras, acusações e leviandades. E não me prendo apenas à disputa pela presidência da república, mas também à disputa pelo governo de alguns estados, cujo resultado nas urnas provocou um segundo turno. Um lamentável segundo turno.

Digo isso tendo como exemplo mais próximo a vergonhosa campanha de ambos os candidatos ao governo do Rio de Janeiro. O que acompanhamos nos debates e nos programas de campanha na televisão, foi o maior e mais lamentável circo de horrores que a política local pôde produzir nos últimos anos. Nem o debate na rede Globo, normalmente cercado de uma rigidez maior nas regras do uso do tempo e da condução do comportamento dos candidatos e platéia, escapou dessa triste e vexatória realidade.

Ataques despropositados, acusações forçadas, reclamações inadequadas... Tudo com um único fim; a desconstrução da imagem do oponente. Propostas? Quem é situação diz que fará agora o que já não fez por todo o tempo que deveria ter feito. Já quem é oposição, promete fazer melhor, aquilo que poderia ter ajudado a fazer, mesmo sendo adversário. Sim, porque na presença efetiva de preocupação com a população, boas idéias e sugestões podem ser passadas e utilizadas à bem do povo, sem que para tanto se precise de cargos ou secretarias. O máximo que fazem é dar nomes pomposos a programas e projetos – bolsas, PACs, PROs e outros, que na prática servem apenas para sustentar realizações fictícias, a serem exploradas nas eleições seguintes. E ficamos nós, eleitores, assistindo a esse thriller em horário nobre. Alguém aí mudou de opinião depois do debate de ontem?

Já a disputa pela presidência terá também hoje o seu último capítulo. E também na rede Globo. E o capítulo de hoje promete esquentar, já que ocorrerá logo após a denúncia de envolvimento da atual presidente Dilma Rousseff, bem como do ex-presidente Lula, com os desmandos na Petrobrás, segundo matéria de capa da revista Veja. Independente da consistência das denúncias do doleiro, a matéria certamente trará um combustível a mais, para o já tão pesado e desconfortável cenário de acusações e provocações entre os candidatos. Resultado; perderemos todos mais uma vez.

O mais importante nessa reta final, porém, é avaliar não o resultado iminente das urnas, mas o resultado político dessa disputa na sociedade brasileira. Sim, porque apesar de tudo que de ruim se produziu nesse processo, seria muito bom que o engajamento da população e a decisão que muitos tiveram de assumir posição diante da disputa, se mantivesse para os próximos dias, meses e anos, fazendo com que o povo passasse a se interessar por acompanhar, cobrar, influenciar e assumir a responsabilidade de, juntamente com suas lideranças, conduzirem o pais e sua agenda de prioridades nacionais. Seja qual for o candidato a sair vitorioso das urnas.

Infelizmente sabemos que não é naturalmente assim. Decidida a eleição, temos o costume de virar as costas para a política e todas as questões que lhe envolvem, como quem diz ao candidato escolhido agora é contigo. Uns por dizerem a si mesmos, foi pra isso que votei em você. Outros por pensarem na amargura da derrota, ninguém mandou ganhar a eleição... que se dane!! Depois reclamamos ao sermos tratados como gado tangido, ao sabor da conveniência do dono do rebanho. Temos o que merecemos. Não pelas escolhas porque legitimas no processo democrático, mas pela omissão no acompanhamento dos mandatários.

Assim, torço para que o maior e melhor legado dessas eleições, seja a percepção nacional de que concordando ou não com o resultado, precisamos manter os olhos bem abertos sobre o uso da coisa pública, e nas decisões que têm reflexos diretos e indiretos sobre a nossa vida hoje, e na vida de nossas futuras gerações.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

É legítimo o poder a qualquer preço?





“Não sou juiz eleitoral. Portanto não me cabe análise justa, senão dizer daquilo que me causa sensação de desconforto. Assim o que digo não é um julgamento. Está mais para desabafo. E desabafar ainda é um direito meu.”
                      JLjr


Há tempos venho evitando entrar na discussão política. Sempre acreditei que minhas convicções, que considero tão particulares, deveriam ficar restritas aos meus familiares, aos amigos mais próximos, e a colegas de trabalho com quem divido meu dia-a-dia. Nas últimas semanas, porém, constrangido pelo desconforto com as flagrantes e escabrosas manipulações de fatos, índices e números, e diante da intensa polarização a que estão submetendo a população, me senti na obrigação de me posicionar de forma contundente e clara, declarando minhas opções, e exercendo na plenitude o meu legítimo e insofismável direito como cidadão.

É aceitável o poder a qualquer preço? Qual seria o limite para a manipulação das massas, com vistas a um objetivo pretensiosamente legítimo? Há um limite? É aceitável que se manipule, por mais nobre que se apregoe tal finalidade? Obviamente não, e a razão é muito simples; como diria minha avó pau que dá em Chico dá em Francisco. Por mais bem intencionada que sejam as lideranças que se utilizam dessa prática – para não entrarmos no mérito do caráter pessoal, a régua que define a linha tênue entre o que é bom e o que é ruim para uma nação, jamais pode ficar na mão de um determinado grupo político, qualquer que seja ele, independente de classe social, econômica ou tendências ideológicas a que pertença tal grupo. É um princípio democrático que jamais deve ser quebrado.

Se um determinado grupo político, independente de sua origem se utiliza do método da manipulação de dados e informações, ou promove a sugestão de realidade e circunstâncias com vistas a manipular o inconsciente coletivo, e atingir assim seus objetivos, mesmo acreditando tal grupo que sabe o que é melhor para o povo, esse mesmo grupo, por princípio, perde a legitimidade do poder que lhe é outorgado. Isso por que usurpa tanto o poder como mandado consentido, quanto à concessão que lhe é feita conceitualmente por mérito de competência. Reafirmo; qualquer que seja esse grupo. A manipulação, portanto, desqualifica a opção, porque realizada sobre bases propositadamente equivocadas.

Ora, como então o Partido dos Trabalhadores imagina legitimar-se no poder, sendo flagrado manipulando informações, fatos e circunstâncias, como observamos principalmente nas últimas semanas? E pior; o cinismo com que vem respondendo aos flagrantes que sofre nesses atos voluntários de inverdades. Foi assim nas imagens da escola em Minas com obras falsamente suspensas ou abandonadas, no estado de conservação e realidade das obras de transposição do São Francisco onde tudo parece perfeitamente pronto, das obras do metrô em algumas capitais, cuja conclusão foi relacionada como realizada durante o debate na Rede Record... Pra ficar em poucas. Ademais, a candidata se insufla a dizer que no seu governo os “maus feitos” foram investigados e os responsáveis foram presos, quando na verdade quase todos já tiveram relaxamento no cumprimento de suas penas, e o ex-presidente Lula insiste em dizer “... não houve mensalão”.

Não bastasse isso, o discurso do PT vem promovendo o acirramento de uma pretensa luta de classes, dividindo os eleitores entre “eles” e “nós”, como se não fossemos todos brasileiros e todos desejosos de um país melhor para todos. O contágio desse separatismo idiota é tão grande, que as conseqüências vêm sendo percebidas nas ruas e até nas redes sociais, onde verdadeiras batalhas de ódio e intolerância se multiplicam e fazem estragos em relações de amizade e companheirismo. Em vez de divergentes, temos oponentes e por oponentes, inimigos. E isso já se traduziu na votação para deputado federal e estadual. Mas isso será assunto para outra oportunidade.

É importante ressaltar que não tomo aqui o PSDB como partido inocente e cândido. De forma alguma. Se mexermos no seu tonel certamente acharemos sujeiras, e das grossas! E também não serão poucas. Porque não há nesse meio e no jogo político, partido algum que se possa autodenominar inocente ou invariavelmente probo. Estão aí denúncias do mensalão mineiro, de fraude no metro de SP e mais recentemente as declarações do ex-diretor da Petrobrás, Sr. Paulo Roberto, sobre propina paga ao então presidente do PSDB, o falecido Sérgio Guerra. Portanto não há mesmo quem possa atirar pedra no telhado alheio entre partidos políticos. Mas o povo, que detém o poder e lhos outorga os mandados, tem não só o direito, mas o dever de exigir explicações.


Minha preocupação, porém, se concentra no uso do imaginário coletivo, que historicamente, foi danoso e de graves conseqüências para todas as nações que o sofreram. E a história está repleta de exemplos disso! Estivesse o PSDB utilizando do mesmo expediente de forma flagrante e escusa, se faria merecedor de igual acusação e repulsa por parte da população brasileira. Mas não é essa a sensação que me causam. Pelo menos não nesse momento.

Não se pode negar, obviamente, alguns valorosos legados que o PT deixou para o país. Ao assumir o poder após a era FHC já em declínio por diversas conjunturas – falei outro dia aqui sobre a salutar alternância de poder para a sociedade, o Partido dos Trabalhadores encaminhou o país num momento positivo da economia nacional, e permitiu avanços importantes nas políticas sociais, onde melhoramos alguns importantes indicadores. Isso, porém, não os legitima a manipular a população para se manter no poder e atender sua sanha de controlar o país e o seu povo. Somos e queremos manter-nos como um país democrático. Mesmo aqueles que por convicção e direito inalienável, acreditam fazer a coisa certa ao votarem na candidata do PT, querem um país democrático, tenho certeza. E aí é que tal manipulação se torna ainda mais cruel; ao conduzir de forma obscura, a boa fé daqueles que acreditam nas inverdades propaladas.

Por fim, corre nas redes sociais o boato de que o PT planeja realizar movimentos calculados para gerar comoção nacional em torno da saúde do ex-presidente Lula, sabidamente uma figura querida em âmbito nacional, com o intuito de carregar votos para a candidata do PT, a exemplo do que naturalmente ocorreu com a então candidata a vice-presidente Marina Silva, após a tragédia que vitimou o ex-governador de Pernambuco e candidato a presidência pelo PSB, Eduardo Campos. Ora, a se concretizarem tais boatos, uma orquestração dessa magnitude e conteúdo, por si só já não levantaria suspeita sobre as intenções que tal partido tem para se manter no poder? Será que chegariam a tal ponto? Custo a acreditar, mas sinto muito não poder duvidar.

Portanto, a resposta nas urnas tem que ser: Não, não aceitamos e não queremos ser manipulados, por quem quer que seja. Por que motivo for, por mais nobre que possa parecer. E que tal resposta, sirva de aviso para pleitos futuros, para que nenhum futuro aventureiro, candidato ou partido, se pretenda a tanto mais uma vez.

sábado, 18 de outubro de 2014

Intransigência agora é moda?





“Se o dogmatismo crê que existe uma única verdade possível, que por ele é exaustivamente conhecida, o fundamentalismo impõe tal verdade como possibilidade única aceitável, sendo tudo o mais um equívoco que carece de conversão. Qualquer que seja o custo”
                      JLjr

Não faz muito tempo, conversamos aqui sobre intolerância, utilizando como cenário as eleições e o comportamento da militância de ambos os candidatos, evidenciando a forma violenta com que vêem se agredindo mutuamente na certeza de que detêm, exclusivamente, a verdade sobre fatos, acusações e sobre o que é melhor para o nosso país. O artigo teve o resultado esperado e muito se falou sobre essa intolerância naquela semana.

Mas um outro tema foi levantado em meio aos comentários sobre o artigo; o avanço presumido e perigoso de um fundamentalismo religioso, já tão evidente em nossos dias, e que de certa forma atuou como uma espécie de coadjuvante nos beligerantes embates entre os mesmos militantes.

É importante ressaltar, portanto, que se algum fundamentalismo religioso se espraia na sociedade, ele não está ligado a posicionamento teológico, mas sim no comportamento dos religiosos, na atitude que vêem demonstrando diante de determinados conceitos relacionados à vida e à sociedade.

Assuntos como legalização do aborto, descriminalização da maconha e casamento gay, entre outros, têm gerado uma polarização acirrada de argumentações antagônicas, que tem colocado em lados opostos diversos setores da sociedade, com evidência flagrante dos setores religiosos e de liberais movimentos pró-minorias.

O mais interessante, contudo, é notar que ambos os lados têm agido com fundamentalismo declarado, embora apenas um dos lados esteja sendo chamado pejorativamente assim. Sim, porque se por um lado os religiosos agem com defesa contundente e profética em nome da moral e dos bons costumes, do outro os tais setores liberais vêem agindo com raivosa intolerância, até mesmo contra quem emite mera e simplesmente sua opinião contrária, acusando indiscriminadamente a todos os que se atrevem a contrariá-los, de retrógrados, homofóbicos e até assassinos. Será que intransigência virou moda?

Ora, a quem interessa o recrudescimento de tais comportamentos, senão àqueles que se acreditam detentores da verdade única e última, que não pode e nem deve ser sequer contestada, ou questionada nos seus pressupostos e intenções. Sim, o fundamentalista acredita ser o guardião da verdade insofismável, e em sua marcha rumo ao estabelecimento dessa verdade como modelo único e possível, de contexto ou crença, ele se dá o direito de utilizar-se de todo e qualquer meio, desde que a pretensa verdade se estabeleça e se firme inabalável. Vale tudo nessa marcha. Os fins passam a justificar os meios, como numa Inquisição, como numa Revolução Bolchevique.

É preciso viabilizarmos um terceiro vetor, que relativize ambas as posições já tão ampla e duramente defendidas, tornando possível não só a discussão abrangente e digna dos temas, mas também e principalmente promover o convívio dos divergentes, que devem acomodar suas posições de forma conciliadora, para o bem da sociedade. Se por um lado não será com legislação que defenderemos a visão cristã da vida humana, uma vez que vivemos em meio a uma sociedade plural em suas tendências religiosas e filosóficas, também não será impondo preferências e as obrigando aceitáveis, que minorias serão respeitadas nos diferentes grupos sociais, pois comportamento e respeito não se impõem; se adquire e se constrói.

Cabe-nos, portanto, pensar como cristãos e cidadãos, lembrando que por principio temos um estado laico, e que direitos e deveres não devem se confundir com santidade e devoção a Deus. Porque se vivermos em uma sociedade transformada, não serão leis liberais que propiciarão o pecado, bem como não será tornando o pecado crime legal, que ele deixará de ser cometido. Ou será que estamos pretendendo transferir a responsabilidade de sermos sal da terra e luz do mundo para o Código Penal Brasileiro?

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

=> O imprevisto é certo. Tanto quanto o socorro!





“A vida é como um cavalo chucro. Não obedece prognósticos, não segue vaticínios, não possui lógica. Quando puxamos à direita, segue em frente, quando deixamos as rédeas cederem, acreditando que o cavalo continuará, ele empaca, teimoso. Desperdiçamos enormes pedaços de nossa existência na ânsia de encabrestar esse tal potro selvagem. Mas controlar a vida se torna um desafio estafante, um delírio de nossa falsa onipotência”

                      Ricardo Gondim em Pra Começo de Conversa – pág. 189


Imprevisível. Uma das características mais inquietantes e assustadoras da vida. O mundo contemporâneo nos obriga a viver em sobressaltos, sempre a mercê das intempéries existenciais que, contra nosso gosto, nos sacode as emoções, convicções e crenças, nos lançando inexoravelmente em um roda-moinho de sensações, muitas vezes novas ou indesejadas.

É claro que também há imprevistos ótimos que nos causam grande felicidade. Mas esses não nos causam temores. Ao contrário, torcemos sempre por tais imprevistos e por eles até sonhamos.

Os sustos, porém, nos amedrontam. E no desejo de jamais passarmos por isso, no anseio de termos o controle da vida, desenvolvemos mecanismos diversos, que tentam blindar-nos das surpresas. Os mais variados segmentos da sociedade se dedicam e gastam muitos recursos para conter e limitar as possibilidades imprevisíveis. Ciência e tecnologia estudam e municiam a sociedade de certas previsões que tentam diminuir a sensação de insegurança ou dando um certo conhecimento do futuro. Daí os institutos de meteorologia, por exemplo, ajudando variados setores da economia, bem como a medicina diagnóstica, que permite antever e prevenir doenças ou avanços, o que seria impossível há poucas décadas.

Nesse afã de nivelar os montes, a religião não fica para trás. Em resposta a angustia pelo imprevisto, ela oferece fórmulas para blindar a vida contra o inesperado. Como se passar por percalços fosse sinal de pouca fé ou garantia de felicidade. O que tentam nos oferecer, é uma vida sem dor e sem lágrimas, que na verdade nos está prometida no porvir. Não agora, não aqui, não nesse corpo.

O que se esquece, é que nenhuma promessa foi feita no sentido de termos uma vida tranqüila e livre de sustos. Muito pelo contrário. “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (Jo 16:33). Ora, se Jesus venceu o mundo onde ocorrem as aflições que nos atingem, muito mais nos fortalecerá para suportarmos tais aflições. Não é que não as sentiremos. Sim, sentiremos. Sim, vai doer. Mas vai passar. Não desanime! O bem final do amor de Deus na vida de uma pessoa é sua transformação interior, seu amadurecimento espiritual. Não seu bem estar físico-social.

A idéia não é nos poupar de eventualidades ou do contingencial. Pelo contrário, precisamos ser experimentados em tudo, na paciência e na esperança, para que a fé se fortaleça e a confiança se aprimore em Deus, pelo poder consolador do Espírito Santo.

Portanto tenhamos confiança diante dos imprevistos. Eles existem e continuarão existindo. O imprevisível continuará a nos surpreender. Mas a confiança no cuidado e no amor de Deus nos fortalecerá em tudo, nos graduando espiritualmente a um coração cheio de fé e devotado a Deus. Sabendo confiadamente que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. Afinal, “tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:13).


terça-feira, 14 de outubro de 2014

=> Inegociável rendição





1 Mais ou menos um mês depois, Naás, o rei dos amonitas, marchou contra a cidade de Jabes, na terra de Gileade. O exército de Naás cercou a cidade, e então os homens de Jabes lhe disseram: — Vamos fazer um acordo e nós o aceitaremos como chefe. 2 Naás respondeu: — Eu faço um acordo, mas com a seguinte condição: furarei o olho direito de todos vocês e assim humilharei todo o povo de Israel.3 Os líderes de Jabes disseram: — Dê-nos sete dias para mandar mensageiros por toda a terra de Israel. Se ninguém vier nos ajudar, então nos entregaremos a você. 4 Os mensageiros chegaram a Gibeá, onde Saul morava. Quando deram as notícias, o povo começou a chorar de desespero. 
5 Naquela hora Saul vinha chegando do campo com o gado e perguntou: — O que foi que houve? Por que todos estão chorando? Eles lhe contaram o que os mensageiros de Jabes tinham dito. 6 Quando Saul ouviu isso, o Espírito de Deus o dominou, e ele ficou furioso. 7 Pegou dois bois, cortou-os em pedaços e mandou-os por meio de mensageiros a toda a terra de Israel, com a seguinte mensagem: — É isso o que acontecerá com os bois dos que não seguirem Saul e Samuel na batalha! O povo de Israel ficou com medo do que o Senhor poderia fazer, e então todos vieram, com um só pensamento, para seguir Saul. 8 Saul os reuniu e os levou de Bezeque. Havia trezentos mil homens de Israel e trinta mil de Judá. 
9 Eles disseram aos mensageiros de Jabes: — Digam ao seu povo que amanhã, antes do meio-dia, vocês receberão socorro. O povo de Jabes ficou muito alegre quando recebeu a mensagem. 10 Então eles disseram aos amonitas: — Amanhã nós nos entregaremos, e vocês poderão fazer com a gente o que quiserem. 11 Na manhã seguinte Saul dividiu os seus homens em três grupos. Ao amanhecer eles avançaram sobre o acampamento amonita e o atacaram. Lá pelo meio-dia já haviam massacrado os inimigos. E os que escaparam se espalharam, cada um fugindo para um lado.”
                                                           1 Samuel 11:1-11- NTLH


O cotidiano da vida moderna tem nos surpreendido mais intensamente a cada dia. Os desafios que se apresentavam de tempos em tempos diante de nossos avós e bisavós, hoje nos sacodem quase que diuturnamente, nos obrigando a uma vigilância cada vez mais atenta e bem preparada.


Os meios de comunicação cada vez mais invasivos, a competitividade profissional crescente e cruel, e o conceito de sucesso intimamente ligado ao bem estar financeiro e ao consumo, têm provocado e requerido uma enorme avalanche de decisões e posicionamentos, exigindo de nós maior amadurecimento e firmeza de caráter espiritual e convicção por fé.

Em meio acentuada desconfiança, Saul foi ungido rei de Israel por Samuel. Houve quem duvidasse de que Saul pudesse ser um líder, capaz de conduzir o povo de Israel nas intermináveis batalhas com os povos vizinhos e pretensamente dominadores. E quando o exercito amonita marchou em direção a Gileade, logo o povo daquele lugar prontificou-se a desconhecer seu rei recentemente ungido, em favor de Naas, desde que esse garantisse mantê-los vivos.

Eles não pensaram duas vezes. Entre o enfrentamento duro e de resultado incerto, e a possibilidade de trocar de lado e se manterem vivos, trataram de garantir a sobrevivência, ainda que deixassem de ser povo de Israel, pois acatariam o domínio e a anexação do território. Trocar de lado portanto lhes pareceu extremamente conveniente, diante da oferta da manutenção de suas vidas tal qual existiam. Um custo baixo, para quem não apresentava qualquer firmeza de propósito em sua condição de povo escolhido de Deus.

O acordo transcorreria naturalmente, se Naas não tivesse exigido dos homens da cidade de Jabes o olho direito de cada um. Apenas a fragilidade a que se submeteriam e a condição humilhante da rendição proposta, fez com que os líderes tentassem uma última opção. Iriam percorrer as cidades de Israel em busca de socorro, de quem os pudesse ajudar. Não descartaram a possibilidade da humilhante rendição, nem da troca de lado. Em nenhum momento pensaram em seu rei recentemente ungido como líder na defesa de seu território, nem no socorro de Deus diante daquele inimigo.

É importante notar que a segurança e a convicção não estavam em alta entre o povo de Israel. No capítulo 10 de 1 Samuel, a narrativa apresenta Saul extremamente hesitante diante da responsabilidade de ser rei. Também ele tentou fugir de sua responsabilidade de líder. Por sua estatura destacável, sabia que seria facilmente encontrado, então se escondeu em meio a bagagem.

Em nosso dia-a-dia, os fatos e circunstâncias que tentam minar nossa confiança em Deus e nossa convicção de sal da terra luz do mundo não surgem tão declaradamente confrontantes. As armadilhas são sutis e maliciosamente colocadas para capturar os desatentos e rasos no conhecimento da palavra de Deus e na comunhão com o Senhor. E desde que nossas condições favoráveis ou conveniências não sejam postas em risco, tudo se torna aceitável e negociável.

Acontece que não pode haver negociação. Lembrando Victor Hugo, quando poupamos o lobo sacrificamos as ovelhas. Nossas convicções cristãs bem como nossa determinação de sermos farol para o mundo e conservadores de uma sociedade que tende à deterioração moral, não podem, em favor da manutenção de nosso conforto social, ou de nossa sobrevivência financeira, ser trocados por comportamentos coniventes nem ideologias convenientes. Não pela promessa da vitória, mas pela certeza e confiança de estarmos lutando a guerra que vale a pena.

Ao agir motivado pelo Espírito de Deus, Saul não mediu conseqüências nem calculou possíveis prejuízos. Apenas partiu em realizar aquilo que lhe pareceu correto fazer (1 Sm 10: 6 e 7); lutar contra o inimigo em favor de Israel. O povo por sua vez, temeu mais as conseqüências de enfrentar Deus do que enfrentarem o inimigo. Até então, agir convenientemente não lhes parecia ser em nada prejudicial. Mas diante da ameaça de Saul, vendo que falava por Deus, temeram que o Senhor lhes punisse de modo ainda pior do que poderia ser a punição infligida pelo inimigo. Não lutar, pode causar ainda maior dano.

Portanto precisamos manter profunda e constante comunhão com o Senhor. Manter sua palavra viva em nossas mentes e corações, nos fazendo convictos de que o cuidado de Deus e o seu Espírito, nos capacitará sempre a resistir às inflamadas flechas da conveniente sobrevivência, com a luz apagada e sem sabor. 

domingo, 12 de outubro de 2014

=> Nem pão. Só circo. E cresce a multidão!





“Logo que anoiteceu, os irmãos enviaram Paulo e Silas para a cidade de Beréia. Quando chegaram lá, eles foram à sinagoga. As pessoas dali eram mais bem educadas do que as de Tessalônica e ouviam a mensagem com muito interesse. Todos os dias estudavam as Escrituras Sagradas para saber se o que Paulo dizia era mesmo verdade. Assim muitos judeus naquela cidade creram, e também não-judeus, tanto mulheres da alta sociedade como também muitos homens.”
                                                            Atos 17:10-12 - NTLH


“Foi ele quem “deu dons às pessoas”. Ele escolheu alguns para serem apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e ainda outros para pastores e mestres da Igreja. Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim de construir o corpo de Cristo. Desse modo todos nós chegaremos a ser um na nossa fé e no nosso conhecimento do Filho de Deus. E assim seremos pessoas maduras e alcançaremos a altura espiritual de Cristo. Então não seremos mais como crianças, arrastados pelas ondas e empurrados por qualquer vento de ensinamentos de pessoas falsas. Essas pessoas inventam mentiras e, por meio delas, levam outros para caminhos errados. Pelo contrário, falando a verdade com espírito de amor, cresçamos em tudo até alcançarmos a altura espiritual de Cristo, que é a cabeça. É ele quem faz com que o corpo todo fique bem ajustado e todas as partes fiquem ligadas entre si por meio da união de todas elas. E, assim, cada parte funciona bem, e o corpo todo cresce e se desenvolve por meio do amor.”
                                                   Efésios 4:11-16 – NTLH


“E foi isso mesmo que ele disse em todas as suas cartas quando escreveu a respeito disso. Nas cartas dele há algumas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e os fracos na fé explicam de maneira errada, como fazem também com outras partes das Escrituras Sagradas. E assim eles causam a sua própria destruição.”
                                                                    2 Pedro 3:16 – NTLH

De tempos em tempos, como é possível perceber na história da humanidade, um determinado conjunto de pressupostos se estrutura quase que involuntariamente como modelo de pensamento, caracterizando o período histórico em que está inserido, bem como determinando as tendências intelectuais de senso comum daquela época. Por tais tendências se influenciam as variadas formas de expressão do pensamento humano; artes, ciências sociais e relacionais, e por que não até a presumivelmente inamovível teologia.

A alternância dessas influências foi evidenciada nas artes, em movimentos como renascimento, iluminismo, barroco e outros, com reflexos e intercâmbio na filosofia, literatura e arquitetura, por exemplo. Divergências e antagonismos determinaram a ruptura total ou parcial com o modelo anterior, tentando criar raízes sustentáveis em seus dias. Tal ruptura exigiu sempre o estabelecimento firme de diferenças ou de um contraditório radical em relação ao pensamento e interpretação passada.

Na teologia não foi diferente. Desde o movimento da Reforma, que arranca a teologia do lugar comum e confortável, de princípios únicos e interpretações uniformes, diversos outros movimentos se alternaram ao longo dos séculos seguintes, promovendo uma onda contínua de alternância nas tendências do pensamento teológico central.

A partir da segunda metade do século XIX, porém, vimos surgirem movimentos paralelos à gangorra dogmática, que acabaram sendo incorporados às tendências teológicas vigentes, e que em vez de se extinguirem ao final de um período curto de exuberância, se mantiveram travestidos de movimentos re-avivadores, piedosos ou optantes pelo cuidado com o bem estar do fiel e de suas necessidades materiais.

É importante ressaltar aqui, que os movimentos surgidos nas cátedras teológicas jamais ficam confinados a um imaginário laboratório da fé. Pelo contrário, diferentemente do labor cientifico que cuida para que suas suspeitas sejam testadas e re-testadas antes de qualquer divulgação, o pensamento teológico toma rumos variados por igrejas, congregações e congressos, sendo abertamente difundidos e espalhados em cultos, missas, conversas e esquinas das ruas e da alma. Espalha-se por denominações e ministérios pessoais que particularizam seu conjunto de crenças, fazendo da experiência religiosa, os mais intensos e multifacetados mosaicos de crenças, certezas e verdades, que se pretendem insofismáveis e que se auto-denominam “mover de Deus”.

Ora, assim como um vírus manipulado em laboratório pode, se escapar por falha na segurança e contenção de sua proliferação, causar enorme devastação com contaminações de proporções continentais ou ainda maiores, idéias e pensamentos distorcidos sobre Deus e o seu Reino, podem influenciar multidões a viver um evangelho completamente diferente daquele pregado pelos apóstolos, e vivido pela comunidade dos salvos desde os primeiros dias após a assunção de Jesus.

Não tem sido raro assistirmos vídeos surreais de comunidades completamente histéricas e desgovernadas na caminhada e fortalecimento da fé. É paletó ungido, água que purifica, lenços que curam, danças e rodopios que me arrepiam, só de pensar que tais acreditam serem essas manifestações legítimas do Espírito Santo no seio da igreja.

Assim, o que vivemos em nossos dias é a proliferação do evangelho do espetáculo e do sobrenatural produzido e acondicionado. Os frutos do Espírito foram substituídos pela alquimia cênica e o conhecimento de Deus foi trocado pela rasa e insustentável magia da mística coletiva e sugestionada. O estudo da Palavra de Deus, foi abandonada na maioria das congregações, em favor de uma pregação fazia de testemunhos encantados “do que Deus pode fazer na vida do crente”, para que esse tenha recompensas e bênçãos que têm como fim último, uma vida melhor e próspera. E pensar que homens cheios do Espírito de Deus como Estevão, foram martirizados e em nada tinham suas vidas por preciosas...

A pregação da Palavra e o seu estudo responsável como fizeram os bereanos, precisa ser recuperado urgentemente em nossas igrejas e congregações. A busca pelo conhecimento de Deus precisa voltar a ser prática nas nossas denominações. Urge recuperarmos os frutos do Espírito como meta de uma vida de comunhão com Deus, em Jesus.

A fé é por definição mágica, porque improvável e incondicional. Mas está longe de ser um circo, uma mentira barata e manipuladora, que afasta a humanidade de Deus, e a entrega à escravidão de um transe fútil e inconsistente para o crescimento espiritual.
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