“Essa mania de querer sempre
reverter resultados no tapetão é, próprio de quem no fundo sabe que faltou empenho
durante a disputa. Um verdadeiro guerreiro tem seu orgulho. E sabe que
reconhecer a derrota é confirmar sua determinação em vencer.”
JLjr
Se alguém pensou que as urnas deixaram
recados apenas aos vencedores, enganou-se completamente. Também aos perdedores,
e me incluo nesse grupo, há importantes recados que precisam ser ouvidos e
admitidos, para o bem da nação, mais do que para consolo pela derrota.
Sim, perdemos. E é preciso parar com
essa mania de tentar encontrar culpas, sabotagens e conspirações, que
justifiquem a derrota no pleito, tentando tornar ilegítimo, ainda que
moralmente, a vitória do opositor. Pouco mais da metade dos eleitores
brasileiros optaram pelo PT, por seus programas sociais, pelo discurso do
cuidado com os pobres, pela ideologia do “eles contra nós”, e por posturas que
incitavam que nós não ligamos para eles. E se é verdade ou mentira que não
ligamos, pouco importa. Essa é a sensação que causamos neles. Porque o discurso
só encontrou eco, porque de alguma forma essa sensação de abandono e descuidado
lhes é latente no inconsciente.
E por que será que essa sensação acontece?
O próprio mapeamento dos votos esclarece, uma vez que dividiu o pais
claramente, separando as regiões de maior concentração de investimentos e
produção, das menos favorecidas pelos investimentos em infra-estrutura e
cuidados com o bem estar social. E não foi sempre historicamente assim mesmo? A
reação raivosa de algumas pessoas pelas redes sociais, que não se furtaram de
declararem suas antipatias com “essa raça de gente pobre e burra”, mais do que
ferir princípios éticos, flagra o que de separatismo latente existe no
comportamento social. Ora, obviamente essa visão influencia decisões
econômicas, que historicamente desfavoreceram essas regiões, de cuja população
se viu acolhida e defendida pelo discurso do PT. Eles estão errados em se
defender? Avalie pela ótica de quem não tem nada.
Portanto, de nada adianta reclamar que
o Bolsa Família comprou voto. O problema é bem mais fundo do que nossa reação
imediata pode alcançar. Começa desde o cuidado que jamais tivemos e ainda não
temos com essa gente. É claro que existem abusos, gente que não precisa,
espertos de plantão que se favorecem da perda de controle... Mas creiam, eles
não totalizariam cinqüenta milhões de pessoas. Há um contingente importante e
grande, de pessoas que dependem sim, e totalmente, dessa parca mas sagrada ajuda que o governo federal
concede. Tanto que a idéia do programa nasceu do governo neo-liberal do PSDB,
diante da alarmante condição de vida a que está submetida essa enorme parcela
da população brasileira.
Uma prima minha postou uma frase que
adorei. Vai começar a onda de
auto-deportação! Achei extremamente adequada, porque é a esse tipo de
bravata que tenho assistido desde domingo à noite: "Só me resta ir embora
desse pais de...". Bobagens. Essa reação, que entendo obviamente ser em
muitos casos apenas um desabafo, na prática externa que a grande maioria de
nós, que perdemos, lutávamos, não pelo bem do país, mas apenas pelo
estabelecimento das condições que julgamos favoráveis a nós mesmos,
independente do que seja melhor para o país. De certa forma, declara por vias
travessas, que para um contingente representativo, o voto em Aécio não passava
de um cuidado intimista com o próprio umbigo.
Divididos ou não em nossas intenções
necessidades e predileções políticas, somos uma só nação. Estamos entre as dez
maiores economias do mundo, temos um território de extensão continental, que não
poderia se furtar de apresentar importante diversidade de costumes e
características regionais. Ou não é essa nossa diversidade, uma das mais ricas
características que apresentamos como nação, que nos faz adaptáveis e
habilidosos em condições contingenciais? Por que agora consideraremos essas
diferenças como razão de vergonha e revolta? Essas são características
nacionais que precisam ser utilizadas em nosso favor, no crescimento da
qualidade de vida de toda a população brasileira.
Aos legítimos perdedores, àqueles que
sentiram doer profundamente a derrota, não pelo candidato em si, mas pela
manutenção do PT e tudo aquilo que se imagina significar isso na política
econômica e seus desdobramentos, passando pela corrupção e tudo o mais, é
importante alertar: Agora mesmo é que a participação tanto no patrulhamento
ostensivo do uso da coisa pública,
quanto nas propostas de solução para as dificuldades e problemas nacionais, se
fará ainda mais importante e necessária. De quebra, tal comportamento auxiliará
as gerações futuras, criando o costume de participar das questões nacionais,
ampliando qualitativamente o nível de politização de nossa gente.
Resta-nos agora, por convicção e dever
cívico, arregaçarmos as mangas e trabalharmos, para que as pessimistas e
desastrosas previsões conjunturais não
se concretizem. Precisamos influenciar positivamente e torcer. Sim, torcer. Para
que nada do que tememos venha acontecer. Muito pelo contrário. Devemos apoiar o
governo Dilma no que for viável, interessante e necessário para o país, bem
como apresentarmos possibilidades e alternativas exeqüíveis de maneira responsável,
contribuindo para a
recuperação do país, ainda que sem pasta na administração pública
ou cargo político, mantendo inabaláveis os pilares da democracia, alcançada por
todos nós com tantos esforços, suor e sangue.
Por fim, não é torcendo pelo touro,
que demonstro ser melhor toureiro do que aquele que está na arena.