terça-feira, 28 de outubro de 2014

Aos perdedores alguns outros recados das urnas





“Essa mania de querer sempre reverter resultados no tapetão é, próprio de quem no fundo sabe que faltou empenho durante a disputa. Um verdadeiro guerreiro tem seu orgulho. E sabe que reconhecer a derrota é confirmar sua determinação em vencer.”
                      JLjr

Se alguém pensou que as urnas deixaram recados apenas aos vencedores, enganou-se completamente. Também aos perdedores, e me incluo nesse grupo, há importantes recados que precisam ser ouvidos e admitidos, para o bem da nação, mais do que para consolo pela derrota.

Sim, perdemos. E é preciso parar com essa mania de tentar encontrar culpas, sabotagens e conspirações, que justifiquem a derrota no pleito, tentando tornar ilegítimo, ainda que moralmente, a vitória do opositor. Pouco mais da metade dos eleitores brasileiros optaram pelo PT, por seus programas sociais, pelo discurso do cuidado com os pobres, pela ideologia do “eles contra nós”, e por posturas que incitavam que nós não ligamos para eles. E se é verdade ou mentira que não ligamos, pouco importa. Essa é a sensação que causamos neles. Porque o discurso só encontrou eco, porque de alguma forma essa sensação de abandono e descuidado lhes é latente no inconsciente.

E por que será que essa sensação acontece? O próprio mapeamento dos votos esclarece, uma vez que dividiu o pais claramente, separando as regiões de maior concentração de investimentos e produção, das menos favorecidas pelos investimentos em infra-estrutura e cuidados com o bem estar social. E não foi sempre historicamente assim mesmo? A reação raivosa de algumas pessoas pelas redes sociais, que não se furtaram de declararem suas antipatias com “essa raça de gente pobre e burra”, mais do que ferir princípios éticos, flagra o que de separatismo latente existe no comportamento social. Ora, obviamente essa visão influencia decisões econômicas, que historicamente desfavoreceram essas regiões, de cuja população se viu acolhida e defendida pelo discurso do PT. Eles estão errados em se defender? Avalie pela ótica de quem não tem nada.

Portanto, de nada adianta reclamar que o Bolsa Família comprou voto. O problema é bem mais fundo do que nossa reação imediata pode alcançar. Começa desde o cuidado que jamais tivemos e ainda não temos com essa gente. É claro que existem abusos, gente que não precisa, espertos de plantão que se favorecem da perda de controle... Mas creiam, eles não totalizariam cinqüenta milhões de pessoas. Há um contingente importante e grande, de pessoas que dependem sim, e totalmente, dessa parca mas sagrada ajuda que o governo federal concede. Tanto que a idéia do programa nasceu do governo neo-liberal do PSDB, diante da alarmante condição de vida a que está submetida essa enorme parcela da população brasileira.

Uma prima minha postou uma frase que adorei. Vai começar a onda de auto-deportação! Achei extremamente adequada, porque é a esse tipo de bravata que tenho assistido desde domingo à noite: "Só me resta ir embora desse pais de...". Bobagens. Essa reação, que entendo obviamente ser em muitos casos apenas um desabafo, na prática externa que a grande maioria de nós, que perdemos, lutávamos, não pelo bem do país, mas apenas pelo estabelecimento das condições que julgamos favoráveis a nós mesmos, independente do que seja melhor para o país. De certa forma, declara por vias travessas, que para um contingente representativo, o voto em Aécio não passava de um cuidado intimista com o próprio umbigo.

Divididos ou não em nossas intenções necessidades e predileções políticas, somos uma só nação. Estamos entre as dez maiores economias do mundo, temos um território de extensão continental, que não poderia se furtar de apresentar importante diversidade de costumes e características regionais. Ou não é essa nossa diversidade, uma das mais ricas características que apresentamos como nação, que nos faz adaptáveis e habilidosos em condições contingenciais? Por que agora consideraremos essas diferenças como razão de vergonha e revolta? Essas são características nacionais que precisam ser utilizadas em nosso favor, no crescimento da qualidade de vida de toda a população brasileira.

Aos legítimos perdedores, àqueles que sentiram doer profundamente a derrota, não pelo candidato em si, mas pela manutenção do PT e tudo aquilo que se imagina significar isso na política econômica e seus desdobramentos, passando pela corrupção e tudo o mais, é importante alertar: Agora mesmo é que a participação tanto no patrulhamento ostensivo do uso da coisa pública, quanto nas propostas de solução para as dificuldades e problemas nacionais, se fará ainda mais importante e necessária. De quebra, tal comportamento auxiliará as gerações futuras, criando o costume de participar das questões nacionais, ampliando qualitativamente o nível de politização de nossa gente.

Resta-nos agora, por convicção e dever cívico, arregaçarmos as mangas e trabalharmos, para que as pessimistas e desastrosas previsões conjunturais  não se concretizem. Precisamos influenciar positivamente e torcer. Sim, torcer. Para que nada do que tememos venha acontecer. Muito pelo contrário. Devemos apoiar o governo Dilma no que for viável, interessante e necessário para o país, bem como apresentarmos possibilidades e alternativas exeqüíveis de maneira responsável, contribuindo para a
recuperação do país, ainda que sem pasta na administração pública ou cargo político, mantendo inabaláveis os pilares da democracia, alcançada por todos nós com tantos esforços, suor e sangue.

Por fim, não é torcendo pelo touro, que demonstro ser melhor toureiro do que aquele que está na arena.

Um comentário:

  1. É meu amigo Jansen, achei perfeito o comentário. Acredito muito que o BRASIL cresce e amadurece com o processo democrático (são sete eleições diretas e uma indireta sem que haja golpes). Acredito que precisamos exercer sim a democracia ao longo de todos os dias, quer nos sintamos vencedores ou perdedores devemos cobrar sempre de todos os políticos e da própria sociedade uma postura ética em busca de um país melhor para todos. E como você disse, torcer pelo caos do país é torcer pela derrota de todos.
    Me assusta muito o discurso golpista de intervenção militar e/ou de impeachement sem prova alguma.
    Bom, é isso, adorei o texto!

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