“É preciso não confundir oba-oba com mudança verdadeira de postura da população
com relação ao processo político e o seu papel e importância no dia-a-dia de nossas
famílias. A incoerência das reivindicações nas manifestações do ano passado,
com o resultado das urnas, é flagrante na maioria do país. Não é possível que
depois de tudo aquilo que vivemos, voltaremos a ser apenas uma massa de modelar
nas mãos de manipuladores escusos, ladrões das esperanças mais legítimas de uma
nação.”
JLjr
Chegamos enfim às vésperas do segundo
turno das eleições 2014. Será o fim de um dos pleitos mais disputados desde a
redemocratização do país. Mas será também o fim de uma disputa banhada de
mentiras, acusações e leviandades. E não me prendo apenas à disputa pela
presidência da república, mas também à disputa pelo governo de alguns estados,
cujo resultado nas urnas provocou um segundo turno. Um lamentável segundo
turno.
Digo isso tendo como exemplo mais
próximo a vergonhosa campanha de ambos os candidatos ao governo do Rio de
Janeiro. O que acompanhamos nos debates e nos programas de campanha na
televisão, foi o maior e mais lamentável circo de horrores que a política local
pôde produzir nos últimos anos. Nem o debate na rede Globo, normalmente cercado
de uma rigidez maior nas regras do uso do tempo e da condução do comportamento
dos candidatos e platéia, escapou dessa triste e vexatória realidade.
Ataques despropositados, acusações
forçadas, reclamações inadequadas... Tudo com um único fim; a desconstrução da
imagem do oponente. Propostas? Quem é situação diz que fará agora o que já não
fez por todo o tempo que deveria ter feito. Já quem é oposição, promete fazer
melhor, aquilo que poderia ter ajudado a fazer, mesmo sendo adversário. Sim,
porque na presença efetiva de preocupação com a população, boas idéias e
sugestões podem ser passadas e utilizadas à bem do povo, sem que para tanto se
precise de cargos ou secretarias. O máximo que fazem é dar nomes pomposos a
programas e projetos – bolsas, PACs, PROs e outros, que na prática servem apenas
para sustentar realizações fictícias, a serem exploradas nas eleições
seguintes. E ficamos nós, eleitores, assistindo a esse thriller em horário nobre. Alguém aí mudou de opinião depois do
debate de ontem?
Já a disputa pela presidência terá
também hoje o seu último capítulo. E também na rede Globo. E o capítulo de hoje
promete esquentar, já que ocorrerá logo após a denúncia de envolvimento da
atual presidente Dilma Rousseff, bem como do ex-presidente Lula, com os
desmandos na Petrobrás, segundo matéria de capa da revista Veja. Independente
da consistência das denúncias do doleiro, a matéria certamente trará um
combustível a mais, para o já tão pesado e desconfortável cenário de acusações
e provocações entre os candidatos. Resultado; perderemos todos mais uma vez.
O mais importante nessa reta final,
porém, é avaliar não o resultado iminente das urnas, mas o resultado político
dessa disputa na sociedade brasileira. Sim, porque apesar de tudo que de ruim
se produziu nesse processo, seria muito bom que o engajamento da população e a
decisão que muitos tiveram de assumir posição diante da disputa, se mantivesse
para os próximos dias, meses e anos, fazendo com que o povo passasse a se
interessar por acompanhar, cobrar, influenciar e assumir a responsabilidade de,
juntamente com suas lideranças, conduzirem o pais e sua agenda de prioridades
nacionais. Seja qual for o candidato a sair vitorioso das urnas.
Infelizmente sabemos que não é
naturalmente assim. Decidida a eleição, temos o costume de virar as costas para
a política e todas as questões que lhe envolvem, como quem diz ao candidato
escolhido agora é contigo. Uns por
dizerem a si mesmos, foi pra isso que
votei em você. Outros por pensarem na amargura da derrota, ninguém mandou ganhar a eleição... que se dane!! Depois reclamamos ao
sermos tratados como gado tangido, ao sabor da conveniência do dono do rebanho.
Temos o que merecemos. Não pelas escolhas porque legitimas no processo
democrático, mas pela omissão no acompanhamento dos mandatários.
Assim, torço para que o maior e melhor
legado dessas eleições, seja a percepção nacional de que concordando ou não com
o resultado, precisamos manter os olhos bem abertos sobre o uso da coisa
pública, e nas decisões que têm reflexos diretos e indiretos sobre a nossa vida
hoje, e na vida de nossas futuras gerações.
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