terça-feira, 14 de outubro de 2014

=> Inegociável rendição





1 Mais ou menos um mês depois, Naás, o rei dos amonitas, marchou contra a cidade de Jabes, na terra de Gileade. O exército de Naás cercou a cidade, e então os homens de Jabes lhe disseram: — Vamos fazer um acordo e nós o aceitaremos como chefe. 2 Naás respondeu: — Eu faço um acordo, mas com a seguinte condição: furarei o olho direito de todos vocês e assim humilharei todo o povo de Israel.3 Os líderes de Jabes disseram: — Dê-nos sete dias para mandar mensageiros por toda a terra de Israel. Se ninguém vier nos ajudar, então nos entregaremos a você. 4 Os mensageiros chegaram a Gibeá, onde Saul morava. Quando deram as notícias, o povo começou a chorar de desespero. 
5 Naquela hora Saul vinha chegando do campo com o gado e perguntou: — O que foi que houve? Por que todos estão chorando? Eles lhe contaram o que os mensageiros de Jabes tinham dito. 6 Quando Saul ouviu isso, o Espírito de Deus o dominou, e ele ficou furioso. 7 Pegou dois bois, cortou-os em pedaços e mandou-os por meio de mensageiros a toda a terra de Israel, com a seguinte mensagem: — É isso o que acontecerá com os bois dos que não seguirem Saul e Samuel na batalha! O povo de Israel ficou com medo do que o Senhor poderia fazer, e então todos vieram, com um só pensamento, para seguir Saul. 8 Saul os reuniu e os levou de Bezeque. Havia trezentos mil homens de Israel e trinta mil de Judá. 
9 Eles disseram aos mensageiros de Jabes: — Digam ao seu povo que amanhã, antes do meio-dia, vocês receberão socorro. O povo de Jabes ficou muito alegre quando recebeu a mensagem. 10 Então eles disseram aos amonitas: — Amanhã nós nos entregaremos, e vocês poderão fazer com a gente o que quiserem. 11 Na manhã seguinte Saul dividiu os seus homens em três grupos. Ao amanhecer eles avançaram sobre o acampamento amonita e o atacaram. Lá pelo meio-dia já haviam massacrado os inimigos. E os que escaparam se espalharam, cada um fugindo para um lado.”
                                                           1 Samuel 11:1-11- NTLH


O cotidiano da vida moderna tem nos surpreendido mais intensamente a cada dia. Os desafios que se apresentavam de tempos em tempos diante de nossos avós e bisavós, hoje nos sacodem quase que diuturnamente, nos obrigando a uma vigilância cada vez mais atenta e bem preparada.


Os meios de comunicação cada vez mais invasivos, a competitividade profissional crescente e cruel, e o conceito de sucesso intimamente ligado ao bem estar financeiro e ao consumo, têm provocado e requerido uma enorme avalanche de decisões e posicionamentos, exigindo de nós maior amadurecimento e firmeza de caráter espiritual e convicção por fé.

Em meio acentuada desconfiança, Saul foi ungido rei de Israel por Samuel. Houve quem duvidasse de que Saul pudesse ser um líder, capaz de conduzir o povo de Israel nas intermináveis batalhas com os povos vizinhos e pretensamente dominadores. E quando o exercito amonita marchou em direção a Gileade, logo o povo daquele lugar prontificou-se a desconhecer seu rei recentemente ungido, em favor de Naas, desde que esse garantisse mantê-los vivos.

Eles não pensaram duas vezes. Entre o enfrentamento duro e de resultado incerto, e a possibilidade de trocar de lado e se manterem vivos, trataram de garantir a sobrevivência, ainda que deixassem de ser povo de Israel, pois acatariam o domínio e a anexação do território. Trocar de lado portanto lhes pareceu extremamente conveniente, diante da oferta da manutenção de suas vidas tal qual existiam. Um custo baixo, para quem não apresentava qualquer firmeza de propósito em sua condição de povo escolhido de Deus.

O acordo transcorreria naturalmente, se Naas não tivesse exigido dos homens da cidade de Jabes o olho direito de cada um. Apenas a fragilidade a que se submeteriam e a condição humilhante da rendição proposta, fez com que os líderes tentassem uma última opção. Iriam percorrer as cidades de Israel em busca de socorro, de quem os pudesse ajudar. Não descartaram a possibilidade da humilhante rendição, nem da troca de lado. Em nenhum momento pensaram em seu rei recentemente ungido como líder na defesa de seu território, nem no socorro de Deus diante daquele inimigo.

É importante notar que a segurança e a convicção não estavam em alta entre o povo de Israel. No capítulo 10 de 1 Samuel, a narrativa apresenta Saul extremamente hesitante diante da responsabilidade de ser rei. Também ele tentou fugir de sua responsabilidade de líder. Por sua estatura destacável, sabia que seria facilmente encontrado, então se escondeu em meio a bagagem.

Em nosso dia-a-dia, os fatos e circunstâncias que tentam minar nossa confiança em Deus e nossa convicção de sal da terra luz do mundo não surgem tão declaradamente confrontantes. As armadilhas são sutis e maliciosamente colocadas para capturar os desatentos e rasos no conhecimento da palavra de Deus e na comunhão com o Senhor. E desde que nossas condições favoráveis ou conveniências não sejam postas em risco, tudo se torna aceitável e negociável.

Acontece que não pode haver negociação. Lembrando Victor Hugo, quando poupamos o lobo sacrificamos as ovelhas. Nossas convicções cristãs bem como nossa determinação de sermos farol para o mundo e conservadores de uma sociedade que tende à deterioração moral, não podem, em favor da manutenção de nosso conforto social, ou de nossa sobrevivência financeira, ser trocados por comportamentos coniventes nem ideologias convenientes. Não pela promessa da vitória, mas pela certeza e confiança de estarmos lutando a guerra que vale a pena.

Ao agir motivado pelo Espírito de Deus, Saul não mediu conseqüências nem calculou possíveis prejuízos. Apenas partiu em realizar aquilo que lhe pareceu correto fazer (1 Sm 10: 6 e 7); lutar contra o inimigo em favor de Israel. O povo por sua vez, temeu mais as conseqüências de enfrentar Deus do que enfrentarem o inimigo. Até então, agir convenientemente não lhes parecia ser em nada prejudicial. Mas diante da ameaça de Saul, vendo que falava por Deus, temeram que o Senhor lhes punisse de modo ainda pior do que poderia ser a punição infligida pelo inimigo. Não lutar, pode causar ainda maior dano.

Portanto precisamos manter profunda e constante comunhão com o Senhor. Manter sua palavra viva em nossas mentes e corações, nos fazendo convictos de que o cuidado de Deus e o seu Espírito, nos capacitará sempre a resistir às inflamadas flechas da conveniente sobrevivência, com a luz apagada e sem sabor. 

Um comentário:

  1. Verdade, acredito não haver ataque mais cruel e violento ao cristão do que o conforto dessa terra.

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