“13 Vocês são o sal para a
humanidade; mas, se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve para
mais nada. É jogado fora e pisado pelas pessoas que passam.14 Vocês são a luz para o mundo.
Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. 15 Ninguém acende uma lamparina
para colocá-la debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é colocada no lugar
próprio para que ilumine todos os que estão na casa.16 Assim também a luz de vocês
deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o
Pai de vocês, que está no céu.”
Mateus
5:13-16 - NTLH
Essa semana fomos surpreendidos com
mais um lamentável episódio de morte entre jovens, agora por ingestão abusiva
de bebida alcoólica. Creio que, como eu, pais pelo mundo afora fiquem perplexos
e preocupados, ao saberem de casos como esses,
principalmente em se tratando de uma festa onde, em princípio, deveriam
estar felizes e celebrando a vida. E é inevitável que diante de tais ocorrências,
uma cascata de dúvidas se abata sobre todos nós, responsáveis que somos e nos
sentimos pela formação de nossos filhos.
Afinal, o que leva jovens a perderem o
bom senso, ultrapassarem limites óbvios e perigosos, a desafiarem circunstâncias
temerárias e avançarem por uma estrada de abusos e destemidas ousadias, quase
sempre com graves conseqüências e seqüelas para suas vidas, quando não sem
volta e sem vida? O que lhes atrai? O que e como são seduzidos a impulsos
impensados? Por que se lançam imprudentes no desconhecido mundo dos imponderáveis?
Longe de pretender esgotar aqui um
assunto tão vasto, mas não querendo calar diante de tamanha perplexidade,
entendo que de certa forma contribuímos todos para que casos assim se repitam e
se agravem em nossos dias. Falo como sociedade, e não falo só da brasileira,
ainda que de certa forma me preocupa demasiadamente a flagrante e crescente
falta de princípios na formação de nossas últimas gerações, acrescida de uma
aviltante inversão consentida de valores morais, éticos e filosóficos.
Digo consentida, porque não percebo
qualquer movimento em contrário. E falo isso com enorme tristeza e certo
sentimento de culpa. Se não por replicar o modelo, minimamente por calar e
assistir impassível o avanço caudaloso desse rio de mazelas e de empobrecimento
do caráter ético da sociedade.
Vivemos tempos em que tudo que é fugaz
se sobrepõe ao duradouro. O que é instantâneo, ao que é crescente. O que é
intenso ao que é consistente, e o que parece
ser ao que realmente é. Nesses
tempos, ter é muito mais importante do que ser. Agir é preferível a refletir, e
afirmar é mais desejável que ponderar. Vivemos aos trancos e jogando tudo e todos
pelos barrancos. Nada pode nos deter. Precisamos chegar na frente, sentar
primeiro, comer tudo e não nos arrependermos jamais. Vivemos um mundo louco
onde somos, cada qual para si mesmo, tudo que importa na vida. Existimos única
e exclusivamente para nos satisfazermos a nós mesmos, custe o que custar.
E em tempos de sociedade dominada pela
mídia e sua influência direta ou indireta, o que todos querem é ser evidência.
Ser o centro das atenções. No início desse modelo de se fazer celebridade e
busca pela fama, buscava-se motivos pretensamente nobres que serviam de álibi perfeito
para atitudes que pretendiam apenas chamar a atenção de todos para si. Hoje, no
entanto, qualquer motivação que possibilite algum destaque, serve ao desejo
incontido de chamar atenção dos demais, ganhando fama seja lá pelo que for.
Se antes se procurava ser o melhor
aluno da classe, o melhor cantor das rádios, o maior goleador ou o corredor
mais rápido, hoje serve ser o maior pegador
da balada, ser a mina que mais
beija, o carinha que mais bebe, o político
que mais rouba, o bandido que mais
mata... Toda evidência serve para se fazer maioral e com isso ter fama, seja no
mundo, seja no sub-mundo. A competitividade atingiu extremos nas duas pontas.
Serve o doping para obter vantagem, serve a burla ao regulamento para beneficiar
a equipe. Serve a culpa, serve a vergonha, serve o dolo.
Eu
sou o cara. É o que todo mundo sonha em dizer de si mesmo.
Todos querem ser o cara. O tal, como se dizia na minha juventude.
E é no ambiente dessa corrida idiota e despropositada, que eventos que deveriam
se prestar à diversão, atraem participantes anunciando competições de
bebedeiras, e mais sutilmente estimulam e promovem orgias e virações de todo o
tipo, embalados por sexo sem compromisso,
drogas de qualquer origem e algum rock in roll. Até porque a música é
apenas pretexto para quebrar o silêncio e ambientar a farra desmedida. Só um
barulho que impeça a reflexão espontânea de alguma mente ainda não entorpecida.
Não estou aqui defendendo retorno a
qualquer época ou defendendo bons costumes. Isso é bobagem. O mundo avança. O
avanço tecnológico e a conquista do conhecimento em diversos seguimentos nos
empurra adiante, a um mundo de novas possibilidades. Mas estou sim defendendo
bons princípios. Motivações legitimas e capazes de nos conduzir à pretensão sermos
melhores e não os melhores. Que as razões que nos movam apontem para uma sociedade
que utilize e se utilize do enorme progresso consignado no último
século, com sabedoria e sobriedade, e não como uma criança que não sabendo como
brincar com uma bola de gude achada por acaso, coloca na boca ou no nariz.
Eis uma ótima oportunidade para
pensarmos, como cristãos, no tipo de evangelho e ética cristã que estamos
oferecendo ao mundo. Temos sido exemplo de alternativa de vida por refletirmos
Jesus em nossas vidas, ou não temos passado de um ajuntamento de pessoas que,
sem consistência e coerência, apregoam o que não vivem e sequer sabem porque é
que existem? Se somos o sal, deveríamos estar conservando a vida em sociedade,
impedindo com isso que apodrecesse. Se somos luz, deveríamos estar orientando o
caminho e oferecendo clareza de opções a essa vida sem propósito que a
sociedade vem experimentando. E no que temos conservado? E que caminho temos iluminado?
Que nós, cristãos, sejamos o sal da terra para conservá-la, e a luz do mundo para servir de orientação,
como requerido e esperado por Jesus. Para que um modelo de vida outro e novo seja
vivenciado com significado e pertinência, e não vivamos oferecendo apenas o
outro lado de uma mesma moeda.
Um
forte abraço.
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