terça-feira, 31 de março de 2015

=> O Leão, o Cordeiro e Eu





“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo."
     João 1:29 - RA


“Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado."
     1 Coríntios 5:7 - RA


“E disse-me um dentre os anciãos: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, venceu para abrir o livro e romper os sete selos."
     Apocalipse 5:5 - RA

Mesmo o mais desavisado e incauto observador da história, sabe que poderosos impérios se seguiram na história da humanidade. Na escola estudamos com mais freqüência e detalhes os impérios egípcio, babilônico, persa, grego e o romano. Pelo menos na minha escola foi assim. Mas também não importa, pois não falaremos em nenhum deles agora, senão para alusão de seus poderes e domínios.

Qualquer que fosse sua origem, todos os grandes impérios tinham por característica a imposição pela força. E pelo medo a que eram submetidos, os dominados sempre se curvaram com uma subserviência conveniente, estratégica e sobrevivente. Mas em nada submissa. E aqui vale a licença poética para diferençar subserviência de submissão. Mas falaremos disso mais à frente.

Obrigados a submeterem-se ao poder de seus dominadores, diversos povos subjugados alimentavam sonho de liberdade e expulsão do dominador de suas terras, e de suas vidas cotidianas. Ora, se tais dominadores se impuseram pela força, nada mais óbvio que se imaginasse a liberdade como resultado de aplicação de força ainda maior, mais poderosa, temida sobre todas as demais.

Entre os povos dominados por esses poderosos impérios, esteve com certo destaque o povo de Israel. Ainda que a Bíblia narre com clareza a ação divina corrigindo seu povo por meio da dominação por povos chamados pagãos, jamais tal domínio foi visto com bons olhos, ou mesmo arrefeceu em seus contemporâneos, o sonho de liberdade e por que não dizer também, vingança, pela opressão e domínio.

Nesse cenário, a identificação do sonho de liberdade com a figura do leão, poderoso e feroz foi mais do que natural. Outros povos ao longo da história reeditaram tal identidade, mas em particular, o povo judeu viveu a esperança no Leão da tribo de Judá, por cujo simples rugido tremiam os inimigos e a uma batiam em retirada. O poder e a força representada pela figura do leão, era tudo o que lhes convinha utilizar, na esperança de liberdade e redenção nacional através da força. Uma força necessariamente superior e mais poderosa que a de seus dominadores.

Ainda que até agora tenhamos falado de nações e povos dominados, em populações inteiras sofrendo a opressão inimiga, elas bem que personificam em boa medida nossos comportamentos individuais e até certo ponto naturais, diante das circunstâncias e desafios que a vida nos impõe no cotidiano de nossos dias. Sim, porque os povos dominadores de ontem, são substituídos em nossa realidade particular e cotidiana, pelos patrões e chefes no trabalho, por colegas que por ganância ou inveja almejam nossas posições, ou por qualquer outra pessoa que se encaixe nessa condição de opressor, e que se torna objeto de nosso mais profundo sentimento de liberdade e por que não dizer, eliminação.

Legítimo ou não, volta e meia nos flagramos sonhando com a liberdade. Volta e meia sonhamos e planejamos ser livres. E se o domínio percebido é forte e opressor, tão mais forte e intenso é o sentimento de que a revolta é o caminho para essa liberdade. Preciso ser mais forte que o dominador. Preciso de força e poder. Preciso feri-lo e matá-lo. Obviamente falo do que passa pela cabeça. Na prática remoemos apenas, e vivemos essa guerra hipotética diariamente. Mas também é verdade que o dia da revolta às vezes chega para alguns.

Falando do que nos é pessoal, fica mais fácil entender porque os judeus esperavam tanto por um Messias poderoso, um Messias arrasador. Um Ungido forte como um leão, capaz de ferir o inimigo com o olhar e colocá-los para correr apenas com seu rugido feroz. Sonhamos dar esse rugido contra nossos opressores diários. Bradamos imaginariamente no cafezinho da esquina, na sala de aula, na sala do chefe, no trânsito, em casa. Bradamos um rugido silencioso que ecoa internamente, revelando-nos o quanto gostaríamos de ser viris e poderosos como um leão.

Enquanto o povo judeu aguardava um Messias poderoso, surge um carpinteiro, eloqüente sim, mas completamente avesso às armas e resistente a força física. Em vez de revidar ao romano violento ele incita a oferecer a outra face. Em vez de lutar pela capa arrancada à força, ele manda entregar também a túnica. Quando oprimido a carregar a carga do romano por uma milha, ele diz para caminhar com esse mesmo opressor duas milhas. Para quem aguardava um leão, é bem natural que não haja nada além de decepção.

Na verdade, o que buscamos em nossa vida, é a confiança de que sempre poderemos andar seguros. E nada melhor para nos dar segurança, do que a sensação de que os outros nos enxergam poderosos e capazes de reagir com força superior à investida, qualquer que seja sua natureza e intenção. E assim, mesmo que nossa realidade individual seja bem diferente, nos vestimos de leão, andamos como leão, olhamos como leão. Tentamos nos impor como leão.

Nada disso, nos diz Jesus no sermão do monte. Em vez de altivos, pobres de espírito. Em vez de risonhos, chorosos. Em vez de viris, mansos. Mansos? Mas leão não é manso! Leão é feroz. Pois então, em vez de querer ser um leão, que tal experimentar ser cordeiro? Porque a falsa sensação de poder que o leão pode trazer, não é mais poderosa do que a força e a liberdade que a submissão a Deus é capaz de proporcionar. Submissão não é subserviência. Esta não passa de servidão bajuladora que se pretende a oportuna barganha. Submissão é a sujeição livre, obediente e humilde, de quem é acolhido e não dominado.

Ser cordeiro não é sinônimo de fraqueza. Enquanto o leão é a imagem da força e do poder, o cordeiro é a imagem da submissão e do sacrifício voluntário. A mansidão é antes de uma resignação, uma opção pela paz. Não por falta de força ou poder, mas por amor. Jesus poderia sem sombra de dúvida ter sido um leão, como ainda o veremos ser como narra o Apocalipse. Mas naqueles dias, optou por ser um cordeiro. O nosso Cordeiro Pascal, que a exemplo do cordeiro que livrou da morte os primogênitos judeus e libertou o povo do cativeiro no Egito, também nos livra do domínio da morte. Não por força, mas por mansidão e sacrifício próprio. Dando-se à morte por optar pela vida de muitos.

E nós? E eu? O que quero ser? Um leão bramindo e assustando, por também assustado, tentando manter longe os inimigos e opressores? Ou um cordeiro, manso e seguro, garantido de que a vida é cuidada pelo pastor de nossas almas? A quem submissos, por amor, nos sujeitamos a uma vida que aguarda o seu Reino. O Reino de um leão, conquistado por um cordeiro.

Que nessa páscoa, nem ovos, nem coelhos ou mesmo chocolate, nos sejam mais simbólicos do amor de Deus, do que o seu Cordeiro, que esvaziou-se do Leão, para calado dar-se em sacrifício pela humanidade, por mim, e por você.

6 comentários:

  1. Glória Deus As duas imagens simbolizam a Jesus a muitas religiões e doutrinas que simbolizam animais e algo para ser mais dia Deus mas.. Deus mostrou que tudo pode ,ser manso como cordeiro para salvar o mundo ,e ser justo e poderoso e alteridade para espulxar o adversário

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  2. Mensagem maravilhosa! Deus continue lhe abençoando!

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  3. Gratidão por este aprendizado, Feliz Páscoa para Vc e sua familia.

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  4. Jansen, como sempre esclarecedor em seus textos. Que Deus continue lhe abençoando e direcionando os seus pensamentos em nome de Jesus!!! Te amo!!!

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